segunda-feira, 18 de agosto de 2014

"Ternura " - David Mourão-Ferreira


Ternura

 

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

 

David Mourão-Ferreira

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP