«A língua portuguesa usa capulana»: provavelmente a última entrevista de Eduardo White
Em Malhangalene (bairro de Maputo) todos conheciam “o White”. Aquele homem alto que tinha que curvar-se para entrar na porta baixa do seu bar favorito ao final da tarde, aquele homem branco que se dizia “pardo mestiço”, filho de mãe portuguesa e pai de descendência inglesa, bisneto de uma negra “grande e analfabeta”1, aquele “poeta do povo” que, logo após o pôr-do-sol, tomava um whisky ou dois nas barracas do jardim da Malhangalene, mais conhecido como “o Pulmão”, entre a Rua da Resistência e a Rua do Padre André.
Eduardo White (1963, Quelimane, 2014, Maputo) adorava conversar com a gente do bairro, gente que se cruzava nesse pequeno parque poeirento e nessas barraquinhas ao pé das quais uma senhora costuma vender bagias por um metical a unidade, e onde me vendiam, à pesquisadora alemã, o galão de água às vezes por 60, às vezes por 70, dependendo da minha capacidade de disfarçar a condição de estrangeira. A partir das seis horas da tarde o Pulmão, mal iluminado, com cheiro a verdura podre, lixo e mijo, transforma-se em lugar de encontro para as pessoas do bairro. Carros estacionados com música em alto volume, homens iniciam conversas etílicas enquanto os alunos da Escola São Vicente de Paulo entram para o turno da noite. No lusco-fusco encontram-se pessoas tão desiguais como uma jovem advogada do Ministério da Justiça que faz companhia à sua amiga dona do bar, um professor da primária desempregado há muito porque o Estado não tem como pagar os salários, uma mãe de dois filhos que vai fazer o seu exame do ensino secundário daqui a pouco, um madgerman que deixou um filho na Alemanha e trabalha como taxista, um moçambicano que viveu a vida inteira em Portugal e agora voltou e apaixonou-se, uma jovem curandeira que me contou da sua trajetória espiritual, não sem antes pedir autorização à mais velha, um polícia e às vezes um funcionário do Ministério da Juventude e Desporto que aproveitam para cumprimentar o povo.
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