sexta-feira, 29 de junho de 2018

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Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Quando a Ciência exige Conhecimento Livre


Estudiosos de Computação e Inteligência Artificial inciam boicote global a revista científica que cobre pelo acesso a artigos. Para eles, difusão de conhecimento requer novo paradigma.
Para ler o texto completo de Fabrício Marques clique aqui

Lamentamos a interrupção: este trabalhador vai ser desligado

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Vivemos de olhos no ecrã, com notificações ligadas, em estado de alerta. Disponíveis e localizáveis — a qualquer hora. Na sociedade do alto rendimento, ainda é possível distinguir vida pessoal e profissional? O direito a desligar é concretizável? Vantagens e perigos, sinais de alerta e dicas, histórias felizes e assim-assim. 
Para ler o texto completo de Mariana Correia Pinto clique aqui

Os grandes discos estrangeiros de 1968. Sabe identificar qual é qual?


Artistas e bandas lançaram discos fundamentais naquele ano. Faça este quiz e relembre alguns dos trabalhos musicais mais marcantes. 
Para ler o texto completo de Olívia Fraga clique aqui

A infância golpeada pelas políticas anti-migratórias


Por trás da brutalidade nas jaulas infantis dos EUA há um fato chocante: crianças já são mais da metade dos refugiados, em todo o mundo. Seus direitos essenciais são sistematicamente ignorados.
Para ler o texto completo de  Monique Roecker Lazarin clique aqui

"Uma ciência feminista precisa explicitar os contextos nos quais o conhecimento produzido por ela é construído"

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Para Marina Nucci, pós-doutoranda na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), uma ciência mais feminista não se resume à presença de mais mulheres na produção de conhecimento. Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), Nucci acredita que para alcançar a equidade é necessária uma nova perspectiva, de crítica ao próprio conhecimento científico, que deve levar em conta as desigualdades de gênero em sua prática. Em entrevista a Gênero e Número, a pesquisadora explica o movimento neurofeminista e fala sobre as conclusões da sua pesquisa. “O ponto de partida deve ser não lidar com as desigualdades como se fossem ‘naturais’ ou ‘imutáveis’, mas sim tentar compreender de que forma elas se estruturam na sociedade, e, assim, tentar combatê-las”, diz a pesquisadora. 
Para ler sua entrevista clique aqui

Domenico Losurdo (1941-2018)


Perda imensurável para o pensamento crítico mundial, o filósofo italiano Domenico Losurdo deixa um precioso legado para o pensamento marxista. Leia aqui as páginas finais de sua última obra publicada em vida: "O marxismo ocidental: como nasceu, como morreu, como pode renascer". 
Para ler o texto completo de Domenico Losurdo clique aqui


"Imaginação voraz" - Maria Teresa Horta

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Imaginação voraz

Tenho uma imaginação
voraz
quando me escreves 
em branco
invento coisas do corpo
de paixão e desatino
debruço-me sobre o teu gosto
vou atrás e adivinho.


Maria Teresa Horta

Uma história cultural do humor brasileiro, segundo este pesquisador


Professor do Departamento de História da USP, Elias Thomé Saliba analisa, em livro, dilemas de identidade do comediante no Brasil e os códigos que explicam nossas piadas, sátiras e chistes. 
Para ler o texto completo de Laura Capelhuchnik clique aqui



Por que as corporações querem nossos dados médicos


Coleta e venda de dados de saúde é negócio multibilionário e de contornos opacos. Tramita no Congresso um projeto de que lei pode ajudar a garantir privacidade.
Para ler o texto completo de Raquel Torres clique aqui

Para compreender Karl Marx por meio de suas obras


Nos duzentos anos do filósofo, vale ler diretamente seus livros — ao invés de conhecê-los por outros autores. Aqui, um roteiro sucinto e provocador.
Para ler o texto completo de Eduardo Mancuso clique aqui

Literatura: a liberdade na luta contra o eu


Em “Respiração Artificial”, Ricardo Piglia propõe viver em terceira pessoa, rejeitando o ideário individualista e a razão burguesa europeia em toda sua monstruosidade.
Para lero texto completo de Bruno Lorenzatto clique aqui

Facebook e Google investem contra fake news. Mas são uma das causas do problema


Nesta quinta-feira, um consórcio de 24 veículos de imprensa anunciou o projeto Comprova, uma ferramenta que fará a checagem de notícias apontadas como falsas de forma colaborativa. A ideia é que, juntando diferentes veículos de imprensa, a verificação seja mais confiável – pelo menos três membros do consórcio precisarão checar as informações para que ela seja publicada. 
Para ler o texto completo de Tatiana Dias clique aqui

A esquerda dividida por Junho de 2013 e a possibilidade de construir novas conexões


“A esquerda se divide em dois polos: quem celebra e quem detesta Junho”, resume Jean Tible à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Segundo ele, o “polo” que existe entre a esquerda anti-Junho e a pró-Junho também foi manifestado na greve dos caminhoneiros, que aconteceu no mês passado. “É curioso como parte da esquerda tem medo das mobilizações dos de baixo e das contradições que sempre surgem. É claro que houve sinais assustadores de parte das mobilizações, com alguns clamando por intervenção militar, mas as demandas em geral pareciam legítimas e justas. Ao invés de a esquerda tentar disputar e estar nesse momento, ela escolhe julgar de fora; isso é uma pena, porque causa uma perda de potencial de transformação”, lamenta.
Para ler o texto completo de Jean Tible clique aqui

quarta-feira, 27 de junho de 2018

"Ave-bala (de rapina) perdida" - Fernando Rios

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Ave-bala 
(de rapina) 
perdida

uma ave-bala perdida
sem eira nem beira
procura um lugar
para morar

e quase sempre
ao encontrar
não faz de seu corpo-ninho
um altar
mas apenas
um casto e raso velório
primeiro repertório
para uma nova morada

ave-bala da cidade
não serve de sobremesa
apenas se apressa na procura
de um novo corpo-ninho

e quando encontra
promove duas moradias

uma para ela mesma
ave-bala em agonia

e uma nova casa
para um corpo sem serventia

II
aves-balas há muitas
soltas
ariscas
aos bandos

nenhuma pousa no fio

senão por um fio
resvala em cada corpo
onde às vezes
ela pousa
penando na escuridão

das aves-balas urbanas
não se fala em ninho
senão de metralhadora

dali elas partem
se multiplicam
se avançam colina abaixo
resvalam colina acima
essas aves-balas
tão diferentes daquelas
de família cabralina

porque estas aves-balas
que escapam das carabinas
criam uma nuvem de medo
cobrem o sol
levam pesares
levam azares
levam penares

e se aconchegam
em novos corpos ninhos
e neles
as aves-balas
ficam para sempre

mesmo quando retiradas
sobram ocos
no corpo adentro
preenchidos apenas
com as lágrimas

de um corpo-ninho
que não ressuscita

III
uma ave-bala
é sempre de rapina

ela vem na surdina

e quando chega
mais do que espanto
abrem-se gargantas
em fúria divina

sem chance
um ser já era
mano ou não
cidadão ou não
polícia ou não
traficante ou ladrão
de  repente
____de cara no chão

IV
uma ave-bala
sempre deixa um nome
numa  lápide
e duas datas
e lágrimas e flores
e sonhos esparramados
e cabelos arrancados
e um azedo odor
de ausências

uma ave-bala
constrói um vazio
num corpo cheio

uma ave-bala
sem qualquer doçura
sem qualquer pergunta
sem qualquer pedir favor
se aloja

e então
o que pode um corpo
senão adernar
e profundamente
sucumbir

V
uma ave-bala
(de rapina)
perdida
vem desembrulhada
loucamente alada
________pelada
e ao penetrar
termina
sem qualquer orgasmo

uma ave-bala
nasce e mata
na capital e no interior
________de qualquer corpo

uma ave-bala
nasce e mata
capital e trabalho

uma ave-bala
não escolhe tempo nem espaço
pode ser (a)manhã tarde noite ou hoje
chuva sol meio-dia orvalho

uma ave-bala
mais do que obra divina
faz parte da extensão
de um homem-bicho-homem
de seu ódio
de sua raiva
de seu errar
____ao céu
____ao léo
de seu estranho amar
de seu cavalgar estrelas
de seu dominar o mar
de seu atrever-se ao ar

VI
uma ave-bala ao léu
não escolhe continente
nem chapéu
para reverência própria
só apronta escarcéu

faz de qualquer corpo
ausente ou presente
coisa subjacente
coisa que boia à toa pelo rio

uma ave-bala
____de rapina, ou não
faz do corpo quente
objeto frio

uma ave-bala solta ao vento
faz de cada sujeito
esquivo objeto abjeto
envolto em cantos, choros
murmúrios e ladainhas

mesmo depois de retirada
a ave-bala não traz de volta
a vida que voou

reina ela – a ave-bala –
na memória de quem ficou
no olhar estatelado de quem olhou
no gesto interrompido de quem calou
na voz engasgada de quem falou
no ouvido surdo de quem ouviu
o silvo sibilino
nem cobra nem felino
nem o risco no ar
só um tudo que antepara
um corpo diante da ave-bala
rapinamente
perdida

de repente

um nada
e ela – a ave-bala achada –
fica suavemente esquecida
na mesa de autópsia
para ser lembrada
na soturna funerária

VII
uma ave-bala perdida
depois de achada
sempre deixa sequela
e ninguém se livra
da memória dela

uma ave-bala perdida
jamais cai no esgoto

sai sempre de um
homem ira
homem raiva
homem tralha
homem ódio
homem cinza
homem escroto

tanto mais cresce o ódio
mais a ave-bala perdida
se transforma em rapina

e mais ela entra
às trombetas
ou em surdina

VIII
a ave-bala perdida
de rapina
não escolhe tempo bom ou ruim
quando ela se apresenta
pressente-se
alguém está perto do fim

e é sempre um presente
que se perpetua
seja criança jovem
velho adulto

basta ser gente
mulher e homem
e a ave-bala de rapina
perdida
não se faz de rogada
e se faz anti-semente

IX
mas as aves-balas perdidas
de rapina
têm especial preferência
(juvenil predileção)
por meninos avião
esses que levam
e polvilham coisas
para prazeres maiores
chamadas drogas
de alucinação
e deixam as pessoas
dentro de si de dentro
do lado de fora
do dentro do nada

e essas crianças jovens
encontram as aves-balas
achadas em qualquer escuridão
e caminham com ela nos seus bolsos
quando deveriam chupá-las
ao invés de entorná-las
em qualquer corpo são

e de repente
essas aves-balas
de rapina
se voltam contra eles
aves-balas perdidas
de rapina
bumeranguemente
atrevidas

X
e no acaso da bala
acha-se um ocaso
finda-se uma doce vida
que poderia ter sido
calma ou intrépida

e as aves-balas
de rapina
perdidas
________ao léo
cumprem cada vez
seu melhor papel
de povoar de
anjos arcanjos
querubins e serafins
o céu

Fernando Rios
(Jornalista, publicitário, antropólogo, poeta, artista plástico e consultor em comunicação corporativa integrada, da safra de 1943)

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