segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nina Simone: recordando uma cantora da verdade



Nina Simone foi uma mulher de muita fibra, mas principalmente de um grande talento. Com uma áspera e inigualável voz, a cantora tinha a incrível capacidade de compartilhar seu mundo e de fazer o ouvinte acreditar em tudo aquilo que estava sendo cantado pelo simples fato de ser cantado com sinceridade, com verdade.
Para ler o artigo completo de Vítor Martins clique aqui


domingo, 29 de abril de 2012

As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital

A classe trabalhadora no século XXI, em plena era da globalização, é mais fragmentada, mais heterogênea e ainda mais diversificada. Pode-se constatar, neste processo, uma perda significativa de direitos e de sentidos, em sintonia com o caráter destrutivo do capital vigente. O sistema de metabolismo, sob controle do capital, tornou o trabalho ainda mais precarizado, por meio das formas de subempregado, desempregado, intensificando os níveis de exploração para aqueles que trabalham. Esse processo é bastante distinto, entretanto, das teses que propugnam o fim do trabalho. Este texto explora alguns dos significados e das dimensões das mudanças que vêm ocorrendo no mundo do trabalho.
Para ler o texto completo de Ricardo Antunes e Giovanni Alves clique aqui

Iná Camargo: “Intelectuais têm pavor de revolução”

A professora Iná Camargo Costa, nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, fala sobre arte e política em tempos de crise. Para ela, a arte convencional, uma das melhores expressões do fetichismo da mercadoria, em todas as suas modalidades, inclusive as chamadas vanguardas, é politicamente comprometida com os valores dominantes. A professora, que acompanhou de perto a luta dos grupos teatrais, principalmente de São Paulo, por políticas públicas para a cultura, afirma que não acha que o caminho da disputa pelos recursos públicos seja revolucionário. Para ela, o preço que os trabalhadores da cultura pagam pela opção reformista é a reprodução interna, tanto subjetiva quanto no plano da organização do trabalho, do que a vida no capitalismo tem de pior. Para Iná, na prática os artistas reproduzem todas as relações necessárias à manutenção do modo de produção capitalista e, reivindicando parte dos recursos públicos para a produção das suas obras e garantia da sobrevivência, demonstram estar completamente integrados ao sistema. “Todos pagam o preço da invisibilidade, inclusive política, a que estão condenados os que não se colocam como estratégia o confronto revolucionário com o monopólio dos meios de produção cultural”, afirma.
Iná Camargo – que atualmente, atua como dramaturgista da Cia Ocamorana de teatro e que anunciou que por ocasião de seu sexagésimo aniversário faz sua despedida de eventos públicos “de qualquer natureza” – afirma que o problema, portanto, não é reiterar que “o projeto socialista está tão fora de pauta”, mas discutir por que as organizações políticas, tanto partidos quanto movimentos, não o colocam em pauta. E coloca um critério: quando um mero intelectual diz que o projeto socialista está fora de pauta, ele está simplesmente expressando seu mais profundo desejo que nunca entre mesmo na pauta, pois intelectuais têm pavor de revolução.
Para ler a entrevista de Iná Camargo Costa clique aqui

Que carro você tem?

Carros particulares já ocupam 25% do espaço urbano de SP. Um colapso é previsível e bastante provável, e tudo indica que devemos mudar nossas mentalidades, assim como fizemos com o cigarro
Para ler o texto completo de Maristela Bleggi Tomasini clique aqui

ALBERT CAMUS: Os quatro pilares da imprensa livre

É certo que toda liberdade tem seus limites. É preciso, ainda, que eles sejam reconhecidos. Sobre os obstáculos que hoje são postos à liberdade de pensamento, aliás, já dissemos tudo o que foi possível dizer e diremos novamente, à saciedade, tudo o que nos será possível dizer.
Em particular, uma vez imposto o princípio da censura, jamais nos espantará o bastante ver que a reprodução de textos publicados na França e examinados pelos censores da metrópole seja proibida no Soir Républicain [jornal publicado em Argel, do qual Albert Camus era redator-chefe], por exemplo.
O fato de que, a esse respeito, um jornal dependa do humor ou da competência de um homem demonstra melhor do que qualquer outra coisa o grau de inconsciência a que chegamos. Um dos bons preceitos de uma filosofia digna desse nome é o de jamais se derramar em lamentações inúteis diante de um estado de fato, que não pode mais ser evitado.
A questão na França não é mais a de saber como preservar as liberdades da imprensa. É a de procurar saber como, diante da supressão dessas liberdades, um jornalista pode permanecer livre. O problema não interessa mais à coletividade. Ele diz respeito ao indivíduo.
Para ler o texto completo de Albert Camus clique aqui

24 horas conectados

Para os jovens, o celular é percebido como uma extensão do corpo. Sair de casa sem o aparelho é como esquecer uma parte de si. Educadores e psicólogos já encaram a conectividade eletrônica como uma nova espécie de vício. No Japão e na Coreia já existem leis sobre o assunto. Para lero texto completo de Maíra Lie Chao e Emi Sasagawa clique aqui

Por que o Brasil precisa das cotas

A importância histórica de certos fatos não é compreendida de imediato pelos que os testemunham. A decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF), que ontem derrotou, por onze votos a zero, a tentativa de anular as cotas para negros nas universidades é, provavelmente, um deles – por pelo menos dois motivos.
Primeiro, a rapidez com que foram superadas as visões mais preconceituosas sobre o tema. Há cerca de cinco anos, quando as políticas de reserva de vagas começaram a ser adotadas, um coro de condenações e desprezo erguia-se contra elas, na velha mídia – e não só lá. Nos jornais e TVs, “intelectuais” como Ali Kamel e Demétrio Magnoli tinham todo espaço para afirmar que as novas medidas iriam introduzir… racismo e discriminação no Brasil! A oposição espalhava-se pela classe média e a agressividade contra as cotas atingia (embora minoritária) as próprias universidades públicas. Em muito pouco tempo, porém, estas manifestações de superficialidade e histeria foram se dissipando. O conjunto de fatores que provocou a mudança inclui os expressivos resultados acadêmicos alcançados pelos cotistas, a emergência das periferias como sujeito social e político ativo e influente e o declínio dos antigos “formadores de opinião” – classe média e mídia conservadoras em primeiro lugar.
O segundo motivo é analisado em detalhes, no texto abaixo, por um mestre. Autor, entre outros, de O Trato dos Viventes e Introdução ao Brasil – um banquete nos trópicos, organizador do segundo volume da História da Vida Privada no Brasil, Luiz Felipe Alencastro é um dos autores brilhantes da historiografia brasileira contemporânea. Um dos focos de seus estudos são, precisamente, as relações entre Brasil e África e como elas marcaram o país, desde a Colônia até o presente.
Em março de 2010, Alencastro foi convidado a depor, numa das audiências públicas que o STF promoveu sobre as cotas. Sintética, erudita e elegante, sua intervenção destaca dois aspectos cruciais: a) A discriminação dos afrodescendentes está na raiz de fenômenos que deformam nossa sociedade até hoje – entre eles, impunidade, violência policial e negação dos direitos e da cidadania; b) Os avanços materiais e culturais vividos no século XX não foram capazes de superar esta nódoa. Um século depois de abolida a escravidão, as estatísticas demonstram que o abismo de desigualdade entre brancos e negros não se fecha por si mesmo.
Uma terceira conclusão, natural, é negar o fatalismo. Os seres humanos não estão condenados a se submeter às heranças que infelicitam seu presente, nem a esperar que forças mágicas (o mercado?) as corrijam. É possível construir agora as políticas das transformação. As cotas são um caminho real. Os que as negam o fazem sob argumentos risíveis, que disfarçam muito mal a defesa de seus privilégios. (A.M.)
A transcrição do depoimento de Alencastro pode ser lida aqui

Noam Chomsky escreve – e fala – sobre o Occupy


No ano passado o movimento Occupy espalhou-se espontaneamente por inúmeras cidades dos Estados Unidos. Mudou radicalmente o discurso e fustigou a elite econômica com sua desafiante defesa das maiorias. Foi, para Noam Chomsky, “a primeira grande resposta pública a trinta anos de guerra de classes”. Em seu livro mais recente, Occupy, Chonsky debate os principais temas, questões e reivindicações que estão levando cidadãos comuns a protestar. Como se chegou a tal ponto? De que modo o 1% de mais ricos influencia as vidas dos outros 99%? Como se pode separar Política de Dinheiro? Que seria uma eleição genuinamente democrática?
Leia a entrevista de Noam Chomsky aqui

UMBERTO ECO: A falibilidade da ciência

Um artigo recente no jornal italiano “Corriere della Sera” discutia a natureza da investigação científica. O escritor Angelo Panebianco argumentou que a ciência é por definição antidogmática porque ela atua por tentativa e erro e está baseada no princípio da falibilidade, que sustenta que o conhecimento humano nunca é absoluto e está num fluxo constante. A ciência só se torna dogmática, diz Panebianco, no contexto de certas simplificações jornalísticas que transformam o que era meramente uma hipótese prudente em “verdades” estabelecidas.
Mas a ciência também se arrisca a ser dogmática quando não consegue questionar o paradigma aceito por uma determinada cultura ou época. Quer as ideias estejam baseadas nas de Darwin, de Einstein ou Copérnico, todos os cientistas seguem um paradigma para eliminar teorias que saem de sua órbita – como a crença de que o Sol gira em torno da Terra.
Para ler o artigo completo de Umberto Eco clique aqui

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pelo movimento slowscience

Pesquisadores, professores, nós precisamos urgentemente desacelerar! Vamos nos libertar da síndrome da Rainha Vermelha! Pare de querer seguir cada vez mais rápido. Pare de querer seguir cada vez mais e mais rápido, o que resulta apenas em estagnação ou até mesmo retrocesso. Na mesma toada do Slow Food, Slow City e Slow Travel, nós criamos o movimento Slow Science.
Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar. Tudo isso leva tempo e nós temos cada vez menos tempo para isso, se é que já não perdemos completamente esse tempo. Dentro e ao redor de nossas instituições, a pressão social promove a cultura do imediatismo e do urgente. Com produções em tempo real, os projetos vão e vêm em um compasso cada vez mais rápido. E nossas vidas profissionais não são as únicas vítimas dessa pressão: um colega que não está sobrecarregado e estressado é visto como excêntrico, apático ou preguiçoso – tudo em detrimento da ciência. A Fast Science, assim como a Fast Food, prima pela quantidade acima da qualidade.
Nós multiplicamos nosso projetos de pesquisa para angariar fundos para nossos laboratórios, que muitas vezes estão em condições deploráveis. Resultado: assim que acabamos de desenvolver um programa e, por mérito ou sorte, conseguimos financiamento, precisamos imediatamente pensar na próxima proposta, em vez de nos dedicarmos ao primeiro projeto.
Para ler o texto completo, bem como os comentários dos internautas clique aqui

Entrevista com o cineasta Beto Brant

Com sete longas em 15 anos e uma carreira consolidada, com prêmios e reconhecimento de seu cinema no Brasil e no exterior, Beto Brant agora está com todos os seus sentidos focados no lançamento de “Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios”, que estreou em abril, após levar vários prêmios, entre eles o de melhor filme no festival de Huelva e na Mostra São Paulo e de melhor atriz para Camila Pitanga nos festivais do Rio e do Amazonas. Desta vez, Beto Brant espera que seu filme alcance um público maior, especialmente em função do desempenho da atriz Camila Pitanga.
Rodado durante sete semanas nas cidades paraenses de Santarém e Itaituba, próximo a garimpos, e no Rio de Janeiro, Brant mantêm suas tradicionais parcerias: com Marçal Aquino, autor do livro homônimo como corroteirista, e Renato Ciasca como coprodutor, codiretor e corroteirista. Diretor de filmes politizados, Brant sonha brincando com esse filme bamburrar – termo muito usado no garimpo e que significa enriquecer inesperadamente. “Torcemos muito para esse filme bamburrar. Claro que o nosso bamburrar – sem aliança de grandes televisões, com um lançamento relativamente pequeno, já devendo dinheiro para o Fundo Setorial do Audiovisual e a pagar a cota de gastos do distribuidor – é ganhar um troco para aguentar um ano na produtora. Mas, acima de tudo, queremos ir para o público”, comenta.
Beto Brant despontou no cinema desde seu primeiro curta, feito como trabalho de conclusão do curso de cinema da FAAP, “Aurora” (1987). Seguiram-se “Dov’e Meneghetti?” (1989) e “Jó” (1993) antes de estrear em longas com o policial “Os Matadores”, em 1997. No ano seguinte, voltou com “Ação entre Amigos”, filme que será exibido e debatido, via projeto Cinema pela Verdade, do Instituto Cultura em Movimento (Icem), para discussão da Comissão da Verdade, em 81 universidades dos 27 estados brasileiros. Com “O Invasor” (2001), Brant alcançou grande sucesso de crítica e de público. Nos últimos anos, ainda dirigiu “Crime Delicado” (2005), “Cão sem Dono” (2007) e “O Amor Segundo B. Schianberg” (2010). Em entrevista para a Revista de CINEMA, realizada no escritório da Drama Filmes, sua produtora, na Vila Madalena, Beto Brant fala do seu novo longa, de suas parcerias, de seu processo de adaptação literária e de como é fazer cinema independente no Brasil.
Veja a entrevista com Beto Brant aqui

É hora de julgar o racismo

O julgamento sobre cotas é uma boa oportunidade para se discutir um aspecto essencial da vida brasileira – o racismo.
A noção de que vivemos numa democracia racial chega a ser patética num país onde mais de 90% dos brasileiros disseram ao DataFolha, em 2008, na passagem dos 120 anos da abolição, que vivemos num país racista.
A visão é comprovada pelos fatos. Os negros estão nos piores empregos, nas piores escolas, nos piores bairros. Têm 30% da renda embora representem 50% da população.
Nessa situação, chega a ser risível ouvir a crítica de que as políticas de ação afirmativa irão criar um ambiente de “tensão racial”, ameaçar a “democracia racial” e forjar uma situação cultural chamada de “racialismo.” Essa noção existe desde a abolição quando, ao menos formalmente, os negros deixaram a condição de “coisa” para se transformar em “pessoas.”
As pessoas convencidas de que somos um país tão tolerante em relação a estas diferenças que elas se tornaram invisíveis poderiam, por exemplo, prestar atenção nos boletins de ocorrência de uma delegacia. Ali, todo brasileiro é identificado pela “cútis” como branco, pardo ou preto. Será que isso diz alguma coisa? Ou é apenas uma necessidade “técnica”?
É apenas indecoroso sustentar que vivemos num país onde o racismo não faz parte do cotidiano. Nem nossas leis anti-racistas, supostamente tão severas, conseguem ser cumpridas como se deve.
Para ler o artigo completo de  clique aqui

terça-feira, 24 de abril de 2012

ENTREVISTA / MICHAEL RICH: Os pais, os filhos e a internet

Atordoados com um desenvolvimento tecnológico que não conseguem acompanhar na mesma velocidade que seus filhos, os pais vêm se abstendo de prepará-los para o universo digital, deixando-os expostos a riscos. O diagnóstico é de Michael Rich, 58, professor do Centro de Mídia e Saúde Infantil da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas americanos nas interações de crianças com mídias diversas.
Ele veio ao Rio na última quinta para fazer uma palestra no 1º Encontro Internacional sobre o Uso de Tecnologias da Informação por Crianças e Adolescentes, organizado pela Universidade do Rio de Janeiro (Uerj). “Os pais precisam engolir seu orgulho e se tornar aprendizes dos filhos na parte técnica, para que possam ser seus professores na parte humana”, disse Rich à Folha.
Pai de quatro filhos (os mais novos têm cinco e sete anos), Rich tem um site (cmch.typepad.com/mediatrician) no qual tira dúvidas dos pais. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele falou sobre como busca introduzir dados científicos em uma discussão que ainda é guiada por valores morais.
Para ler a entrevista clique aqui

Pai da web adverte: controle da internet é assustador

Em conjunto com um dos fundadoreas do Google, Tim Berners-Lee afirma que tentativas de censura na rede estão se multiplicando — e alerta para os “perigos assustadores” destas medidas.
Para ler o artigo completo de Susana Almeida Ribeiro clique aqui

ENTREVISTA / PERRINE CANAVAGGIO - Abrir informações requer nova cultura

Em 16 de maio, entra em vigor a Lei de Acesso a Informações Públicas (Lei nº 12.527, de 18/11/2011). Dá-se como certo que o Estado brasileiro não tem nem ferramentas nem cultura para cumprir o disposto na lei: foi, em outras palavras, o que declarou o ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, à Agência Brasil (17/4). Hage disse que na data prevista nem tudo estará funcionando integralmente, porque foi curto o prazo de seis meses dado para a preparação da máquina estatal – ele entende que o prazo deveria ter sido de dois anos.
Nesta entrevista ao Observatório da Imprensa, feita por e-mail, a arquivista francesa Perrine Canavaggio diz que para vencer a resistência da administração à aplicação da lei é preciso, entre outras medidas, designar responsáveis por sua aplicação num nível elevado de responsabilidade e publicar seus nomes e formas de contato nos sites dos organismos.
A Lei de Acesso à Informação dispõe sobre o acesso a dados dos órgãos públicos em todas as esferas: nos casos do Executivo e do Legislativo (incluindo os tribunais de contas), esferas federal, estadual e municipal; no caso do Judiciário, federal e estadual. Também deverão fornecer informações o Ministério Público e “as entidades privadas sem fins lucrativos que recebam, para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres”. O mesmo prazo para entrada em vigor da Lei de Acesso foi dado ao Poder Executivo para regulamentá-la.
Para ler o texto completo de Mauro Malin clique aqui

Narcisismo no facebook

Faço parte do que o jornal britânico “The Guardian” chama de “social media sceptics” (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado “sombrio” do Facebook (22/3/2012).
Ser um “social media sceptic” significa não crer nas maravilhas das mídias sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na “história”, sou daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte, sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos diante da opacidade do mundo e do tempo.
Para ler o artigo completo de Luiz Felipe Pondé clique aqui

Repensar a economia, o desafio do século 21

Ricardo Abramovay dispara, em entrevista: “Trata-se de fazer a pergunta que a ciência econômica sempre omite: crescer para quê, para produzir o quê, para qual resultado?
Confira a entrevista aqui

domingo, 22 de abril de 2012

Aborto: o grande tabu no Brasil

Anos de pesquisas permitem-me dizer: criminalização perdura porque atinge mulheres pobres: aquelas que não contam, nem são vidas a preservar…
Para ler o artigo completo de Heloisa Buarque de Almeida clique aqui

sexta-feira, 20 de abril de 2012

MUSEUS E MEMÓRIA: As histórias que contamos a nós próprios

Aos 11 anos, em visita a Constantinopla, fiquei surpreendida quando, devido a uma avaria no nosso carro, várias pessoas procuraram ajudar-nos e não desistiram nem nos atacaram quando souberam que éramos Gregos (era suposto odiarmo-nos mutuamente). Aos 12, fiquei chocada quando ouvi num documentário estrangeiro que Alexandre o Grande era um imperialista e assassino de povos (era suposto todos o admirarem e reconhecerem a sua grandeza). Aos 19, de novo na Turquia, em Smirna, fiquei perplexa quando um velho pescador, ao saber que éramos Gregos, começou a chorar e disse que era de Creta (mas não falava grego, como seria suposto). Nessa mesma viagem, chegando a Afyonkarahisar, senti-me desconcertada ao ver na praça central uma estátua que representava a luta entre um Turco e um Grego, este último caído no chão (era suposto os Gregos estarem sempre de pé). Aos 23, numa visita a um museu de história em Halifax na Inglaterra, fiquei indignada ao ver fotografias de combatentes da resistência cipriota contra os colonos britânicos onde eram referidos como “terroristas” (era suposto serem celebrados por todos como heróis).
Para ler o artigo completo de Maria Vlachou clique aqui

quinta-feira, 19 de abril de 2012

INTERNET & LITERATURA: As pessoas não conseguem mais ler textos longos

Por força de um texto lido neste Observatório (“Internet e o comércio da distração”) assumi o compromisso de, assim que pudesse, retirar A geração superficial, de Nicholas Carr, de uma pilha de livros novos num canto de estante para ler com calma. A obra é interessante porque mescla história do livro e das ideias sobre o mesmo com constatações acerca das transformações produzidas na leitura, no mercado editorial e no próprio livro em decorrência das novas tecnologias da informação.
Apoiando-se na obra de outros autores, Carr defende a tese de que, assim como o livro impresso mudou a forma dos homens pensarem e se comunicarem, a internet também está fazendo isto. No primeiro caso, em virtude da concentração exigida pela leitura do livro, teria havido um ganho intelectual, cultural e civilizacional. No segundo, em razão da interatividade da internet, estaria ocorrendo um prejuízo cognitivo porque as pessoas não conseguem mais ler textos longos (os links produzem dispersão, a consulta dos e-mails e perfis sociais durante a leitura também etc...).
Carr afirma que já está ocorrendo um crescimento da compra de e-books e um declínio das vendas de livros impressos. Após fazer uma longa digressão sobre o que ocorreu com os jornais norte-americanos (que fecharam, faliram, reduziram sua circulação ou simplesmente migraram para a internet), o autor sustenta que o livro como produto cultural estaria condenado à desaparecer ou a se transformar num produto produzido em pequena escala e consumido por uma pequena elite de leitores. Para ler o texto completo de Fábio de Oliveira Ribeiro clique aqui

Cinema questiona o medo do Islã

Multiplicam-se na Europa “filmes de autor” que contestam visão estereotipada das grandes produções, e destacam diversidade oferecida pelas culturas árabes ao continente.
Para ler o artico completo de Stefania Summermatter clique aqui

Bertrand Russell : "porque não sou religioso"


Bertrand Russell nasceu em 1872 e morreu em 1970. Um dos seus livros mais célebres é “Porque não sou cristão”. Entre muitas outras obras relevantes, escreveu também “The Principles of Mathematics” e “Os problemas da Filosofia”. Recebeu o premio Nobel da Literatura em 1950 e várias outras distinções "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento". Russell propôs, em sua autobiografia, um "código de conduta" liberal baseado em dez princípios, à maneira do decálogo cristão. "Não para substituir o antigo", diz Russell, "mas para complementá-lo". Os dez princípios são:

1.    Não tenhas certeza absoluta de nada.

2.    Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.

3.    Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu não terás sucesso.

4.    Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5.    Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6.    Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.

7.    Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8.    Encontra mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9.    Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.

10.Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

Perguntaram a Bertrand Russell porque é que não é era cristão e ele explicou porque é que não era religioso. Para acompanhar sua resposta, veja o vídeo da entrevista, de cerca de 3’, aqui

Tudo pode estar por um segundo

Paul Mason, autor de obra que estuda novos movimentos, sustenta: redes que desafiam capitalismo precisam se preparar para resposta brutal do sistema.
Para ler a entrevista completa clique aqui

Capitalismo, movimentos e a grande encruzilhada

Saiu há semanas, na Inglaterra, um livro especialmente provocador, sobre os movimentos rebeldes de 2011. Seu título, em português, poderia ser Por que tudo está começando1. Seu autor, o jornalista britânico Paul Mason, cobriu quase todas as revoltas sociais que marcaram o ano passado: Cairo, Madri-Barcelona, Atenas, Londres, Madison, Nova York. Mas a obra vai muito além do relato factual. Mason, um repórter experimentado [aqui, seu blog e verberte na Wikipedia], hoje na BBC, é também estudioso incomum da história das revoluções e do movimento operário; das mutações do capitalismo; das teorias sobre redes, políticas horizontais e internet. Ao articular vivência real nas ruas rebeladas com ferramentas teóricas capazes potentes, ele pôde chegar a três grandes hipóteses – tão esperançosas quanto perturbadoras. Elas aparecem em duas entrevistas recentes: uma, ao site norte-americano Alternet; outra, à revista londrina Red Pepper, traduzida e reproduzida alguns parágrafos adiante.
Para ler o artigo completo de Antônio Martins clique aqui

terça-feira, 17 de abril de 2012

Novo livro de José de Sousa Miguel Lopes


LANÇAMENTO

28/04/2012 (sábado) - 10h

Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa

(Praça da Liberdade, no 21 - Belo Horizonte)

APOIO


(...) O que está em pauta nos oito ensaios – entre os quais caberia incluir a “apresentação” – são os desafios de tornar possível o ato de educar quando se está mergulhado em uma cultura improvável.
Para enfrentar essa difícil equação, José Miguel lança mão, com sua incomum destreza, do recurso “bifronte”, à moda de Janus, de mergulhar na cultura contemporânea e de fazê-lo com clássicos instrumentos de análise e crítica.
Em face dos desafios de pensar metodicamente e com consistência uma cultura estilhaçada e rasa, Miguel incita seus leitores a assumir os rigores do saber científico permeado de “virtudes pedagógicas”, como: a paciência, a congruência e a arte do diálogo. Por certo, ele se dirige aos educadores, destacadamente, aos atuais e futuros professores, convidando-os à razão e à sensibilidade.
E, aqui, se impõe um problema: o convite lhes chegará às mãos, na íntegra e sem tardanças?
A pergunta é cabível já que interceptam os caminhos de acesso aos atuais e futuros professores a desrazão das políticas governamentais – claudicantes na ciência e no saber da experiência, infensas à paciência, a coerência e ao diálogo, e tantas outras virtudes.
Como contrapor as densas análises de Miguel a essas políticas tanto quanto às descabeçadas intervenções de organizações que, não sendo governamentais, desfrutam poderes de estado, e que de educação não sabem pouco ou quase nada?
Como contra-arrestar os profetas midiáticos, cujos escritos são incluídos em bibliografia para concursos docentes, embora pedestres de pesquisa ou de saber pedagógico?
Expresso essas inquietações pelos muitos obstáculos que se interpõem às iniciativas de diálogo sério e sistemático com os profissionais das escolas básicas. Estes textos de Miguel são necessários e que, por isso mesmo, há de serem lidos a quem de destino.
Penso, especialmente, nos professores das escolas públicas (...).

Mirian Jorge Warde

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Lutas na tevê

Em março deste ano, a revista Exame publicou uma matéria informando que o número de assinantes pay-per-view das lutas do Ultimate Fighting Championship (UFC) dobrou no último ano, pulando da casa dos 50 para 100 mil assinantes. O assunto foi tema do programa Ver TV, produzido pela TV Câmara. Entre as entrevistadas estava a pedagoga Ana Paula Fonseca.
Professora da cidade de São Paulo, Ana Paula Fonseca está preocupada com a audiência infanto-juvenil, cada vez mais antenada às lutas. Lutas que “além da violência traz também o glamour, a projeção e a fama dos competidores. Um tipo de luta tratada como um esporte milionário e sem muitas regras”.
Na última semana, a revistapontocom conversou com a professora para aprofundar a temática. Para a professora, é preocupante a banalização da violência e da agressividade pelas vias midiáticas. Segundo ela, é justamente esse processo de naturalização e de internalização, de longa data, que leva as pessoas a considerarem “leves” programas como o UFC.
Veja a entrevista aqui

Chomsky: O ataque ao Ensino Público

Os cortes de financiamento, os aumentos das propinas, a empresarialização das universidades, a instituição do ensino para o teste e outros mecanismos que pretendem destruir o interesse dos estudantes e moldá-los, são exemplos deste ataque.
A entrevista a Noam Chomsky pode ser lida aqui

George Steiner, um certo conceito de conhecimento

Nietzsche, Heráclito e Dante são os heróis do seu novo livro, Poetry of thought [Poesia do pensamento], mas vão ter de ficar para depois. George Steiner recebe-nos em casa, em Cambridge, numa confidencialidade divertida, entre uma fatia de bolo e um café. Nos primeiros dias do Eurostar, propôs que se desse um shilling ao primeiro garoto que visse um peixe no Túnel da Mancha. "Os pais ficaram aterrorizados!", goza o professor de Literatura Comparada.
É essa mistura de malícia e erudição, inteligência e simpatia, que caracteriza George Steiner. Nascido em 1929 em Paris, de mãe vienense e de um pai checo que teve a presciência do horror nazi, este mestre da leitura poliglota decifrou Homero e Cícero desde tenra idade, sob orientação do pai, um grande intelectual judeu, fanático de arte e música, que queria despertar nele o professor (o sentido literal da palavra "rabino"). Em 1940, a família partiu para Nova Iorque, no último barco que saiu de Génova. Depois de estudar em Chicago e posteriormente em Oxford, Steiner entrou para a Redação do The Economist em Londres. Voltou a atravessar o Atlântico para entrevistar Oppenheimer, o inventor da bomba atómica, que o levou para o Instituto de Princeton.
Foi o "ponto de viragem" da sua vida. Ao mesmo tempo que publica os seus marcantes livros – Tolstoi ou Dostoievski [edição brasileira na editora Perspetiva], Linguagem e silêncio [edição portuguesa na Relógio d’Água], entre muitos, frequentemente resultado do material das suas aulas –, funda a Churchill College, na Universidade de Cambridge, é crítico literário da New Yorker e dá aulas na Universidade de Genebra.
A entrevista a um grande humanista da Europa, cujo pensamento circula por todo o mundo pode ser vista aqui

Uma fascinante contadora de histórias

Podemos considerar que a aquisição da linguagem tem inicio com o choro da criança ao nascer.
Durante o processo de desenvolvimento, a criança aos poucos vai adquirindo suas primeiras palavras através da observação e do feedback auditivo que a criança estabelece, com o objetivo de se comunicar, com aqueles que a cercam: a família.
A primeira fase é a do jargão, em que a criança começa a produzir cadeias de enunciados, meias palavras, ainda não analisáveis, mas que são completamente interpretáveis para nós adultos. Ocorre normalmente até os dezoito meses de vida da criança.
A segunda fase é a das palavras, em que a criança através de imitações desenvolve as primeiras palavras, ocorrendo por volta dos dois anos de idade.
A terceira e última fase seria a das frases onde a criança já emprega estruturas com frasais curtas, com alguns erros de gramática e de pronúncia, mas com significado compreensíveis. Tornam-se capazes de produzir uma verdadeira comunicação.
Aos poucos, ela vai identificando as inadequações em sua produção oral, observando o comportamento adulto e modificando-os.
A linguagem é um instrumento de comunicação e satisfação das necessidades que a criança possui, muito antes de começar a falar. Podemos dizer que a criança ao nascer, já tem a habilidade de usar o olhar, a expressão facial e o gesto para se comunicar.

Suely Laitano Nassif http://ashistoriasdemariana.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html 

Para acompanhar esta fascinante contadora de histórias veja o vídeo aqui

O poder tem medo da internet - Entrevista com Manuel Castells

Manuel Castells é um dos sociólogos internacionais que mais estuda a sociedade da informação. A sua trilogia A era da informação: economia, sociedade e cultura já foi traduzida para 23 línguas. Depois de ter lecionado, por 24 anos, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, desde 2001, ele dirige o departamento de pesquisa da Universidade Aberta da Catalúnia. Seu estudo mais recente chama-se Projeto Internet Catalúnia. Durante seis anos, por meio de 15 mil entrevistas pessoais e 40 mil via internet, Manuel Castells analisou as mudanças que a internet produziu na cultura e na organização social.
Confira a entrevista concedida ao jornal El País aqui

domingo, 15 de abril de 2012

O social da rede

Nome: Rodrigo Rodrigues. Moro em: Facebook. Em relacionamento sério com: Twitter. Religião: Orkut. Gênero: on-line. Sobre mim: “Sorria sempre, seus lábios não precisam traduzir o que acontece em seu coração” (Clarice Lispector).
Como vocês já devem ter visto em meus perfis pessoais, sou ator, jornalista, cineasta, blogueiro e diretor de arte de uma agência de propaganda. Minha vida, aliás, é um Facebook aberto. Uso aplicativos para informar meus seguidores onde estou, quantas colheres de açúcar coloco no café e quanto tempo falta para cortar as unhas do pé novamente. Todo mês, transmito o banho do meu pug ao vivo. Ontem mesmo, abri uma discussão para decidir se colocava roupa branca ou escura na máquina de lavar. Cento e setenta e nove pessoas comentaram.
Para ler o texo completo de Renato Terra clique aqui

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Lawrence Krauss: "Deus se tornou redundante"


Lawrence Krauss, de 57 anos, é mundialmente conhecido por seu trabalho teórico, por livros como A física de Jornada nas Estrelas e por seus programas no Discovery Channel. Em seu novo livro, A universe from nothing (Um universo a partir do nada, ainda inédito no Brasil), ele parte das leis da física para dizer que os mistérios em torno da origem do Universo são uma mistificação. Nesta entrevista, ele diz que a ciência finalmente é capaz de explicar como o Universo surgiu. “Os religiosos afirmam saber que Deus criou o Universo. Isso é preguiça intelectual”, afirma. 
Para ler a entrevista completa clique aqui

CIRQUE DU SOLEIL: uma bela homenagem ao cinema


Durante a premiação do Academy Awards 84, uma apresentação do Cirque Du Soleil deixou os espectadores maravilhados. Cerca de 50 artistas deram um show com a temática “Uma viagem através do mundo do cinema“, e encantaram a plateia, que aplaudiu de pé. Veja o vídeo aqui

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Bullying religioso

Na terça-feira (3/4), o jornal Folha de S.Paulo publicou uma interessante matéria, assinada por Ricardo Gallo, sobre o caso de um estudante que foi perseguido por não rezar na sala de aula. O fato ocorreu na Escola Estadual Santo Antônio, localizada no município mineiro de Miraí (terra do saudoso cantor Ataulfo Alves) e envolveu Ciel Vieira, aluno do 3º ano do ensino médio, e a professora de geografia, Lila Jane de Paula. Segundo a reportagem, Lila resolveu iniciar as suas aulas rezando o pai-nosso com todos os alunos e Ciel, ateu há dois anos, permaneceu em silêncio durante a oração. Ao notar a reação negativa do estudante, a docente teria dito que “um jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”.
Para ler o texto completo de Francisco Fernandes Ladeira clique aqui

ACADEMIA & CIÊNCIA: SciELO Brasil lança portal de livros eletrônicos

Foi lançado em 30 de março, durante evento na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em São Paulo, o portal SciELO Livros. Integrante do programa Scientific Eletronic Library Online SciELO Brasil – resultado de um projeto financiado pela Fapesp em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) –, o portal visa à publicação online de coleções de livros de caráter científico editados, prioritariamente, por instituições acadêmicas.
Para ler o texto completo de Elton Alisson clique aqui

segunda-feira, 9 de abril de 2012

MORRER DE PÉ NA PRAÇA SYNTAGMA - José Jorge Letria


O ACONTECIMENTO

No dia 04/04/2012, Dimitris  Christoulas, um
pensionista grego, de 77 anos, pôs termo à sua vida
sob uma árvore, na Praça Syntagma, nas proximidades
do parlamento grego. Segundo informaram algumas
testemunhas, Christoulas ainda teria berrado “não
quero deixar dívidas aos meus filhos” antes de desferir
um tiro contra sua própria cabeça. Vale dizer que o
Tsolakoglou, a quem se refere em sua nota suicida,
foi o primeiro ministro grego que, em 1941, permitiu
a entrada das forças nazistas na Grécia. Para Christoulas,
o atual governo grego se assemelha ao de Tsolakoglou,
já que sob forte pressão da Alemanha de Angela Merkel,
acabou aceitando os termos impostos pela troika
(credores internacionais da Grécia), para receber ajuda
financeira de bilhões de dólares vindas do FMI. Como
todos sabem, há alguns anos a Grécia vem atravessando
uma grave crise que, dentre outros efeitos, causou um
enorme desemprego atingindo uma em cada cinco
pessoas naquele país. Para tentar resolver a crise
financeira, o governo cedeu às pressões germânicas e
optou por pegar bilhões de dólares emprestados junto
ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e, em
contrapartida, adotar as medidas de austeridade impostas
pela troika: cortes de 25% dos valores das pensões e de
serviços sociais, reduções de salários, aumento de
impostos e demissões de funcionários públicos, dentre
outras. Tais medidas, evidentemente, atingem em cheio
não só os trabalhadores, que perdem seus empregos,
mas também os desempregados e aposentados de todo o
país, como era o caso de Dimitris Christoulas.

A nota que deixou, dizia o seguinte:
“O governo de Tsolakoglou acabou com a possibilidade
de eu poder sobreviver com uma pensão digna, que
paguei sozinho durante 35 anos sem nenhuma ajuda
do Estado. E, sendo que a minha idade avançada não
me permite reagir de forma dinâmica (embora se um
colega grego pegasse uma Kalashnikov, eu estaria bem
atrás dele), não vejo outra solução senão pôr, de forma
digna, fim à minha vida, para que eu não me veja
obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento (…)”.

O TEXTO de José Jorge Letria
Quando se ouviu um tiro na Praça Syntagma,
logo houve quem dissesse: “É a polícia que ataca!”.
Mas não, Dimitris Christoulas trazia consigo a arma,
a carta de despedida, a dor sem nome, a bravura,
e vinha só, sem medo, ele que já vivera os tempos
de silêncio e chumbo do terror dos coronéis.
Mas nessa altura era jovem e tinha esperança.
Agora tudo isso findara, mas não a dignidade,
que essa, por não ter preço, não se rende nem desiste.


Dimitris Christoulas podia ser apenas um pai cansado,
um avô sem alento para sorrir, um irmão mais velho,
um vizinho tão cansado de sofrer. Mas era muito mais
do que isso. Era a personagem que faltava
a esta tragédia grega que nem Sófocles ou Édipo
se lembraram de escrever, por ser muito mais próxima
da vida do que da imaginação de quem efabula.
Ouviu-se o tiro, seco e certeiro, e tudo terminou ali
para começar logo no instante seguinte sob a forma
de revolta que não encontra nas bocas
as palavras certas para conquistar a rua.
Quando assim acontece, o silêncio derruba muralhas.
Aos jovens, que podiam ser seus filhos e netos,
o mártir da Praça Syntagma pediu apenas
para não se renderem, para não se limitarem
a ser unidades estatísticas na humilhação de uma pátria.
Não lhes pediu para imitarem o seu gesto,
mas sim que evitassem a sua trágica repetição.
E eles ouviram-no e choraram por ele, e com ele,
sabendo-o já a salvo da humilhação
de deambular pelas lixeiras para não morrer de fome.


Até os deuses, na sua olímpica distância,
se perfilaram de assombro ante a coragem deste gesto.
Até os deuses sentiram desprezo, maior do que é costume,
pela ignomínia de quem se vende
para tornar ainda maior a riqueza de quem manda.
A Dimitris bastou um só disparo, limpo e breve,
para resumir a fogo toda a razão que lhe ia na alma.
Estava livre. Tornara-se herói de tragédia
enquanto a Primavera namorava a bela Atenas,
deusa tantas vezes idolatrada e venerada.
Assim se despedia um homem de bem,
com a coragem moral de quem o destino não vence.


Quando o tiro ecoou na praça de todas as revoltas,
Dimitris Christoulas deixou voar uma pomba,
uma borboleta, uma gaivota triste do Pireu
e disse, com um aceno: “Eu continuo aqui,
de pé firme, porque nada tem a força de um homem
quando chega a hora de mostrar que tem razão”.
Depois vieram nuvens, flores e lágrimas,
súplicas, gritos e preces, e o mártir da Syntagma,
tão terreno e finito como qualquer homem com fome,
ergueu-se nos ares e abraçou a multidão com ternura.

José Jorge Letria

6 de Abril de 2012
 
http://abeirario.blogspot.com.br/

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP