terça-feira, 31 de maio de 2022

"Ditirambo da Paz" - Cassiano Ricardo

 






Ditirambo da Paz

 

 

 

 

 



quero paz


não


de pás


de cal


nem de pas-


maceira




quero paz


de pás


ao ombro


paz viva


paz


que mantém


o homem


em pé


na pers-


pectiva


do advir.




paz


de sempre


viva


muito viva


que cada um


de nós


cultiva


no peito


homem da


rua


ou na faina


do eito


lutando por


uma


madrugada


definitiva

 

 

 

 

 



Cassiano Ricardo


Genocídio: Nós acusamos porque para o social a responsabilidade não prescreve

 





"Horror, horror, horror, é a política genocida em curso no País, tema do Tribunal Permanente dos Povos", escreve José Geraldo de Sousa Junior, mestre e doutor em Direito pela Universidade de Brasília - UnB, professor e ex-reitor da mesma instituição. Para ler seu texto clique aqui


Leia "José Raimundo Trindade: Barbárie social e crise econômica" clicando aqui


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Carta a Vinicius Jr: transforme o futebol em um ato de resistência contra a barbárie


Prezado Vinicius,


 


Conversando com um dos maiores expoentes de nossa cultura, há poucos dias, chegamos à conclusão que iríamos torcer pelo Liverpool na final da Liga dos Campeões, e não pelo Real Madrid. Afinal, como apoiar um time que, no passado, já esteve ligado ao franquismo? Mas emendamos com um porém: se a vitória dos merengues for com gol do Vinícius Jr, não iremos protestar.


 


E assim ocorreu. Você suspendeu o tempo para milhões de corações apaixonados pelo esporte mais fascinante já arquitetado.


 


Em Paris diante de um rei nas tribunas, num campinho em Roma entre garotos ou em São Gonçalo, de onde você vem, teu nome ecoa pelos continentes como se não existissem paredes para limitar teu impacto. Aos 21 anos, você tem o mundo aos seus pés. E é por isso que lhe escrevo um apelo, na forma desta carta.


 


Ao contrário da velha máxima que questiona qual mundo vamos deixar aos nossos filhos, a verdadeira pergunta é outra: que filhos vamos deixar ao mundo?


 


E você pode ajudar a moldar uma nova geração. Para milhões de garotos, você é a nova referência. Cada passe teu será copiado e ensaiado à exaustão por garotos no Senegal, na Suíça ou em Manaus. Assim como serão copiados e recebidos como inspiração cada declaração que você optar por dar. Teus pés não mais fazem apenas gols. Eles podem contribuir para mudar o mundo, Vini.


 


Recuso-me a enxergar o estádio apenas como um local de entretenimento. Ele é uma caixa de ressonância da esperança, dos sonhos e mesmo da violência da sociedade.


 


Não há motivo, portanto, para pensar que o esporte não possa ser um instrumento de Justiça social e de promoção de valores humanistas. Certa vez, almoçando com Ban Ki Moon, então secretário-geral da ONU, ele me dizia: uma mensagem de paz, de apoio aos refugiados ou de defesa da natureza numa abertura da Olimpíada tem um impacto infinitamente maior que qualquer campanha organizada pela ONU para convencer a opinião pública sobre aqueles valores.


 


Vini, rapidamente surgirão vozes para alertar que não se pode contaminar o esporte por temas políticos. Mas esses que defendem essa tese são os mesmo que não querem ser questionados em seus privilégios hereditários.


 


Também me perguntarão: é justo pedir isso tudo de um jovem jogador?


 


Mas eu então respondo: não se pronunciar diante de injustiças, de atos racistas ou homofóbicos é apenas silêncio ou um ato político? Podemos construir um estádio para ser usado como palanque político para a elite local, mas não podemos usar suas arquibancadas para lutar por igualdade?


 


Se teus dribles e imagem podem ser usadas pelo capitalismo para vender carros, cueca, desodorante, relógios e sonhos, por qual motivo ele não pode promover a ideia subversiva do direito à vida, à alimentação e à educação?


 


Quanto tempo devemos esperar para que meninos se transformem em homens numa era em que vemos o acelerado desmonte dos pilares da civilização?


 


Não me venham falar da necessidade de se manter a política afastada dos campos. Ela já está presente e atende aos interesses daqueles que controlam o jogo, daqueles que ditam as regras, daqueles que usam o futebol para se eleger deputado, vereador ou prefeito.


 


Assim como no reggae e outras formas de arte, a luta por direitos está autorizada a ocupar todos os espaços. Sempre. E o futebol - global, popular e irresistível - passaria a ser muito mais que um esporte. Seria, no fundo, um ato de resistência contra a barbárie.


 


Nesta temporada, você arrebentou. E não tenho dúvidas de que um futuro repleto de conquistas e pinturas de gols te esperam. Mas um gol de letra teu será aquele que alfabetize as consciências, que conquiste a cidadania. Dependendo da opção que você escolher para tua carreira, você não irá apenas chacoalhar as arquibancadas. Mas o inconsciente coletivo e as estruturas do poder.


 


Meu apelo, Vini, é para que você rompa o silêncio cômodo de tantos jogadores que, para não se transformar em um problema ao clube ou ao patrocinador, baixam a cabeça e escondem no suor as lágrimas de um passado de sofrimento e sacrifícios. Atletas que mentem para si mesmos e que, longe da coragem da indignação de um Muhammed Ali, repetem que nunca foram alvos de racismo e não denunciam um regime econômico desumano que tanto marcou suas infâncias.


 


Todos nós sabemos que a diferença entre alguns dos maiores jogador de todos os tempos do futebol e o maior atleta do século 20 não foi o número de títulos. Mas a atitude diante da humanidade e de seus irmãos oprimidos.


 


Vini, não estou pedindo tua filiação a um partido e nem que inicie uma revolução. Apenas que use teu corpo, teu uniforme, tua vibração e teus gols para mandar uma mensagem a garotos de que a democracia precisa ser defendida, que a indignação não pode vir apenas no momento de um pênalti não marcado, que a união dos torcedores pode ser a união por dignidade, que o racismo é inaceitável, que a defesa do direito de cada uma das meninas é a garantia de uma sociedade mais justa.


 


Se você optar apenas por jogar futebol, os troféus serão merecidamente teus. E, como ocorreu nestes últimos dias, te aplaudiremos de pé.


 


Agora, se você optar por fazer a diferença numa sociedade carente de líderes, a conquista será de milhões de crianças que poderão não apenas sonhar com um futuro, mas sim construí-lo.


 


Saudações democráticas,



Jamil Chade



Fonte: UOL, 31/05/2022

Donatella Di Cesare: O falso mito da Ucrânia soberana com fronteiras livres

 





"A fronteira, sempre artificial, em vez de ser a linha compartilhada de comunidades políticas e linguísticas abertas, torna-se uma frente bélica. É o que acontece hoje na Ucrânia, onde centenas e milhares, definidos como 'heróis', sacrificam suas vidas por uma velha e indefensável ideia de 'pátria'”, escreve Donatella Di Cesare, filósofa italiana e professora de Filosofia Teórica na Universidade de Roma “La Sapienza”. Para ler seu texto clique aqui


Leia "Thierry Meyssan: Os programas militares ucranianos secretos" clicando aqui


Leia "Daniel Vaz de Carvalho: Por quem os sinos dobram na Ucrânia" clicando aqui


Leia "Carlos Carvalhas: O Dólar. O sistema monetário Internacional" clicando aqui

Robbie Williams & Taylor Swift: "Angels"

 





Para assistir à interpretação de  "Angels" nas vozes de Robbie Williams & Taylor Swift clique no vídeo aqui

HUMOR - Sonho

 





O sonho é aquele momento íntimo e gostoso, que, longe dos olhos de todos, nos entregamos aos nossos desejos. No mundo onírico, a realidade é objeto da sua criação, você pode voar, ter o que quiser, marcar o gol decisivo do seu time, comer a sua cunhada gostosa e até curtir um pôr-do-sol com o Bruno Gagliasso, sem camiseta, que ninguém irá te julgar. Nos sonhos não tem conta pra pagar, chefe pra te cobrar ou cônjuge pra te encher o saco. O foda é que quando você acordar, ele ainda vai estar ali do seu lado peidando e roncando. Divirta-se clicando aqui

Navegando pelo cinema

 







"Nós que nos amávamos tanto": um olhar sobre o filme de Ettore Scola




"Sempre fui um apaixonado pelo cinema italiano, que nos presenteia com diretores maravilhosos, entre os quais Ettore Scola (1931-2016). Esse filme, em particular, é de uma beleza única, e recebeu o César em 1977, o mais importante prêmio concedido pelo cinema francês, na categoria de melhor filme estrangeiro". Para ler o texto de Faustino Teixeira clique aqui








Esboço para uma teoria crítica do cinema de guerrilha (3)





O cinema crítico contemporâneo está em impasses determinantes para sua sobrevivência e manutenção. Para ler o texto de Arthur Moura clique aqui








 Os versos que vêm das quebradas





Para a galera do rap, a música não é apenas arte e negócio. É missão, filha, companheira fiel, produtora de orgulho para suas comunidades. Quem nos diz isso em "Histórias e Rimas" não é nenhum crítico ou sociólogo, mas os próprios criadores, à sua maneira. Rodrigo Giannetto fez um documentário performático, em que entrevistas, depoimentos e performances se confundem. Bem a propósito, uma vez que o hip hop é eminentemente autobiográfico. Pra ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui

Roman Krznaric: "Nós colonizamos o futuro"

 





Roman Krznaric (Sydney, 1971) é membro fundador do corpo docente da The School of Life em Londres e consultor em matéria de empatia de organizações como a Oxfam e as Nações UnidasKrznaric é um filósofo público que escreve sobre o poder das ideias para mudar a sociedade. Seu último livro é: "Como ser um bom ancestral. A arte de pensar o futuro num mundo imediatista" (Zahar, 2021). Depois de passar a infância em sua cidade natal e em Hong KongKrznaric estudou nas universidades de OxfordLondres e Essex, onde recebeu seu doutorado em Sociologia Política. É fundador do primeiro Museu da Empatia do mundo e também pesquisador da Long Now Foundation e membro do Clube de Roma. Para ler sua entrevista clique aqui



Leia "Alain Supiot: Uma sociedade que oferece a seus jovens o ideal de se tornarem milionários está condenada à repetição das crises" clicando aqui



Leia "Michael E. Mann: Esta crise é uma lição sobre os perigos da dependência dos combustíveis fósseis" clicando aqui


segunda-feira, 30 de maio de 2022

"O Poema Pouco Original do Medo" - Alexandre O'Neill


 


O Poema Pouco Original do Medo

 

 

 

 

 



O medo vai ter tudo


pernas


ambulâncias


e o luxo blindado


de alguns automóveis



Vai ter olhos onde ninguém os veja


mãozinhas cautelosas


enredos quase inocentes


ouvidos não só nas paredes


mas também no chão


no teto


no murmúrio dos esgotos


e talvez até (cautela!)


ouvidos nos teus ouvidos



O medo vai ter tudo


fantasmas na ópera


sessões contínuas de espiritismo


milagres


cortejos


frases corajosas


meninas exemplares


seguras casas de penhor


maliciosas casas de passe


conferências várias


congressos muitos


poemas originais


e poemas como este


projetos altamente porcos


heróis


(o medo vai ter heróis!)


costureiras reais e irreais


operários


     (assim assim)


escriturários


     (muitos)


intelectuais


     (o que se sabe)


a tua voz talvez


talvez a minha


com certeza a deles



Vai ter capitais


países


suspeitas como toda a gente


muitíssimos amigos


beijos


namorados esverdeados


amantes silenciosos


ardentes


e angustiados



Ah o medo vai ter tudo


tudo



(Penso no que o medo vai ter


e tenho medo


que é justamente


o que o medo quer)



O medo vai ter tudo


quase tudo


e cada um por seu caminho


havemos todos de chegar


quase todos


a ratos


Sim


a ratos

 

 

 

 



Alexandre O’Neill


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