quarta-feira, 25 de maio de 2022

"Delírio" - João Guimarães Rosa

 




Delírio

 

 

 

 

 

 



No parque morno, um perfumista oculto


ordenha heliotrópios…


Deixa aberta a janela…


Minhas mãos sabem de cor o teu corpo,


e a alcova é morna…


Apaguemos a luz…


Não sentes na tua boca


um gosto de papoulas?…


Passa o lenço de seda de tuas mãos


sobre minha fronte,


e não me digas nada:


a febre está, baixinho, ao meu ouvido,


falando de ti…

 

 

 

 

 

 



João Guimarães Rosa


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