JOSÉ DE SOUSA MIGUEL LOPES – Convite de Lançamento de seu mais recente livro
PREFÁCIO DE ANTÓNIO NÓVOA
Por que
motivo as crianças de modo geral são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?
O trabalho de José de Sousa Miguel Lopes merece uma atenção especial. A
forma como escolhe os seus temas, como se lança em áreas de fronteira e como
abre novas problemáticas caracteriza um autor de grande intuição e
originalidade.
Neste livro, vai buscar as suas raízes moçambicanas e brasileiras para
escrever um estudo comparado que tem como chave a poesia na escola – Poesia e etnicização nos livros didáticos de
Português: Um estudo comparativo Moçambique e Brasil.
Apesar do seu interesse, vou deixar de lado as reflexões teóricas e
metodológicas do autor, sobre a comparação, o currículo ou a didáctica, para me
centrar no íntimo deste livro assim apresentado logo na abertura:
“Pela mediação da
poesia, os poetas fundaram os povos. E os povos fundaram a língua. E a língua
fundou as nações. Não tem talvez uma lógica histórica. Tem a da poesia. Que é
alquímica. Ou seja: mágica”.
Comemora-se este ano o Centenário do nascimento do mais importante
psicopedagogo português do século XX: João dos Santos (1913-1987). As suas
crónicas mais conhecidas foram publicadas em O Jornal da Educação. Nelas, explica que o importante não é tanto
ensinar como se lê, mas “Aprender a ler” na natureza, nas pessoas e nas coisas.
E esta aprendizagem faz-se com os sentidos e com a inteligência, “com os
sentidos dentro da inteligência”, implica a capacidade de alimentar a fantasia
e a imaginação das crianças.
É este mesmo espírito que inspira as ideias de José de Sousa Miguel Lopes. O título deste prefácio pertence a Carlos Drummond de Andrade, que
pergunta:
“Não estará na escola,
mais do que em qualquer outra instituição social, o elemento corrosivo do
instinto poético da infância que vai fenecendo à proporção que o estudo
sistemático se desenvolve, até desaparecer no homem feito e preparado
supostamente para a vida?”
Por isso, José de Sousa Miguel Lopes defende uma prática pedagógica que
seja espaço de criação. Recorre a Mário Quintana para dizer que os livros de
poemas deveriam ter sempre margens grandes para as crianças desenharem. Assim,
a poesia não seria só leitura, mas seria também a inscrição de cada um, com a
sua individualidade, com a sua identidade, no seu próprio processo cultural.
A poesia propõe a abertura para as diferenças e dá às crianças e aos jovens
uma visão do mundo e da história, dos mundos e das histórias. É o que José
Craveirinha nos diz, à sua maneira, no poema do futuro cidadão:
“Vim de
qualquer parte
de uma Nação
que ainda não existe
Vim e estou aqui!”
José de Sousa Miguel Lopes utiliza a poesia para mostrar a importância de
um novo currículo, de uma nova didáctica, de uma nova pedagogia. Nunca ignora o
papel das relações de poder no acto de educar e, por isso, conclui o seu
trabalho com um apelo aos professores, afirmando que a poesia pode ser um meio
poderoso para construir um mundo mais humanizado.
Com inteligência e compromisso, o autor abre-nos, como diria Mia Couto,
para a possibilidade de sermos as pegadas dos passos por acontecer…
António Nóvoa
18 de Agosto de 2013
Para adquirir o livro acesse o site da editora
CRV, de Curitiba, clicando aqui
O mesmo site permitirá o acesso à Apresentação
e a outros itens do livro, bastando clicar na palavra Sumário.
7 comentários:
Amigo Miguel, vc bem merece essas palavras que mesmo sem ler seu livro sei que refletem suas vivências e sonhos. Bem que eu queria que todos os que sonham com uma educação aberta a imaginação pudessem contaminar todos os professores e pais como um vírus imortal. Muitos bjs pra vc, Carla e Antônia. Inez
Professor Miguel. Parabéns e obrigado, mais uma vez, pelo convite. Seus textos tem nos possibilitado muitas reflexões na educação. ABraços. Mariano
Meu caro Miguel,
Que alegria receber este convite e saber que teremos acesso a uma obra que promete nos inspirar muito, nos caminhos da educação, da vida, do reencantamento com o mundo.Grande abraço
Lorene
Miguel,
Meu querido e eterno professor. Você me emociona e me surpreende quando navega por tantos mares da diversidade humana. Obrigada por me ajudar a alcançar as pegadas da via poética.
Beijos,
Marilia
Caro amigo,
desejo-lhe muito sucesso com a nova obra.
Parabéns por contribuir mais uma vez para com a nossa sociedade, espalhando sementes de tão valiosas ideias.
Abraço carinhoso, de seu amigo, aluno e admirador,
Miguel Júnior
...qual griot transportando um Kora cheio das estórias que hão-de vir. No início e no fim, logo a seguir ao amor, ou ao lado, mesmo ali ao lado, a poesia, sempre a poesia.
Maria Machamba
Que alegria em receber o convite e aprender com mais uma obra sua, querido Miguel.Como professora da Educação Infantil endosso a importância da poesia no universo dos pequenos leitores.Humanizar desde a infância para colhermos um amanhã de gentilezas ...Abraços Monique Torres
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