Agamben: O pensamento é a coragem do desespero
Nascido em Roma em 1942, Giorgio Agamben tem
uma trajetória peculiar. Nos anos de formação, o jovem estudante de Direito
andava com artistas e intelectuais agrupados em torno da autora Elsa Morante.
Uma Dolce Vita? Um momento de amizades intensas, em todo caso. Giorgio Agamben apareceu como o apóstolo Filipe emO Evangelho segundo são Mateus (1964) de Pier Paolo Pasolini. Pouco
a pouco, o jurista virou-se para a filosofia, após um seminário de Heidegger em
Thor-en-Provence. Então ele lançou-se sobre a edição das obras de Walter
Benjamin, um pensador que nunca esteve longe de seu pensamento, bem
como Guy Debord e Michel Foucault. Giorgio Agamben
tornou-se, assim, familiarizado com um sentido messiânico da História, uma
crítica à sociedade do espetáculo, e uma resistência ao biopoder, o controle
que as autoridades exercem sobre a vida – mais propriamente dos corpos dos
cidadãos. Poético, tal como político, seu pensamento escava as camadas em busca
de evidências arqueológicas, fazendo o seu caminho de volta através do turbilhão
do tempo, até as origens das palavras. Autor de uma série de obras
reunidas sob o título latino Homo sacer, Agamben percorre a terra da lei, da
religião e da literatura, mas agora se recusa a ir… para os Estados Unidos,
para evitar ser submetido a seus controles biométricos. Em oposição a essa
redução de um homem aos seus dados biológicos, Agamben propõe uma exploração do
campo de possibilidades. Nesta entrevista a Juliette Cerf em Trastevere,
o filósofo italiano contesta quem o vê como pessimista, cita Marx e
sustenta: “condições desesperadoras da sociedade em que vivo me enchem de
esperança”.
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