A USP nas areias do Templo de Salomão
Pode ser uma inverdade, mas
neste terreno a especulação tem força de lei.
Diz-se que a terra contaminada
que ocupava a área na qual foi construído o Novo Templo de Salomão, mais
recente edificação religiosa da Igreja do Bispo Edir Macedo, foi removida para
o aterro no qual se estabeleceu a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP, a EACH. Desta maneira a assim chamada USP-Leste anda pelas areias do
deserto, qual Moisés em busca da terra prometida, sem lugar para continuar seu
projeto inovador, enquanto se inaugura, na mesma cidade, o mais imponente
santuário da fé.
Seria só mais um caso desta
mistura crônica entre descaso, imprevidência e precariedade, com o qual temos
tratado a educação em geral e as universidades em particular. Contudo, há algo
mais forte e insinuante nesta metáfora. A terra contaminada, sob a qual se ergue
o templo religioso, lugar, sagrado, santo e purificado, é transportada para dar
fundamento, em sentido objetivo e arquitetural, a um novo campus laico, profano
e comum, que prenunciava uma nova era de expansão do acesso a este bem
simbólico crucial que é a universidade. Menos do que uma inépcia dos
responsáveis pelo sistema de higienização, do que um deslize do departamento de
controle de resíduos, ou do horizonte ecológico da operação, há neste desterro,
um toque de ironia.
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