Que fim levou a direita ilustrada?
Quando
entrei na USP em 1984 meus avós ficaram preocupados. Ainda era época do degelo
militar e a Psicologia vinha com um traço “róseo” que levantava suspeitas em
meu querido avô. Formado da tradição liberal inglesa, voraz leitor do Estadão, ele
iniciou uma espécie de profilaxia que consistia em receber-me, às quartas
feiras, para uma conversa sobre temas de sua livre escolha: economia, política
ou cultura. Minha avó esperava a ocasião com uma generosa torrada sobre a qual
repousavam dois ovos pochés, em cima dos quais salpicava-se pimenta, extraída de um
daqueles antigos e compridos moedores feitos de madeira. Depois do fausto e
antes da partida de xadrez, vinha a chamada oral em torno dos artigos,
previamente selecionados na semana anterior: Delfim Neto, Pedreira, Paulo
Francis, Simonsen, Joelmir Beting e ao fim o indefectível Bob Fields (Roberto
Campos), combinavam-se com artigos mais informativos doThe Economist ou das revistas francesas ou alemãs,
que minha avó conseguia interpolar na conversa. Lembro particularmente de um
luminar da direita americana chamado Rush Limbaugh, que quando ativado era o
código para “agora o comunismo vai tremer nas bases” e Cuba deixará de ser o
exemplo eterno de superioridade moral em matéria de educação e saúde.
Rapidamente descobri que havia alguns caras que “pegavam mais leve” e que havia
uma tensão a ser explorada entre meus dois avós, já que ela gostava mesmo era
da Folha.
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