quarta-feira, 23 de julho de 2014

MERCADO & UNIVERSIDADE: Jornalista não é robô


Recentemente, num congresso acadêmico em uma universidade pública do Rio de Janeiro, uma mesa de debates reuniu jornalistas e profissionais de órgão de mídia discursando para um público de professores, estudantes e pesquisadores, numa tentativa de aproximar academia e mercado – esses dois universos frequentemente acusados de serem demasiado distanciados um do outro. Entre os palestrantes, estava o diretor da versão brasileira de um prestigiado jornal digital estrangeiro, convidado a falar sobre o aproveitamento do conteúdo colaborativo em sua redação.
Em certo ponto, o convidado começou a descrever o perfil desejável de jornalista que espera contratar, enumerando as qualidades essenciais em seu ponto de vista:
“Primeiro, precisamos ter claro que acabou a divisão de tarefas no jornalismo da era digital: não tem mais isso de só apurar, ou só tirar foto. O jornalista que queremos apura, escreve, tira foto, edita vídeo, posta em redes sociais, monitora comentários, dá feedback ao leitor. Temos uma equipe de nove pessoas – dez, contando comigo – que se desdobram em todas as funções. Em nossa redação, os perfis pessoais de cada jornalista em redes sociais, como Twitter e Facebook, são obrigatoriamente integrados ao trabalho e linkados pelo nosso site. A pessoa não separa mais vida pessoal e profissional na rede. É preciso estar disposto a trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana” .
Provocada pelo receituário draconiano, uma estudante de pós-graduação fez uma pergunta sobre o salário, questionando se todo esse trabalho multiplicado à exaustão é, pelo menos, remunerado de forma adequada. A resposta do palestrante foi brutal:
“Não, não: na verdade, tem é de dar graças a Deus por ainda ter emprego”.
Sob os protestos da plateia, o diretor do jornal online não se intimidou e iniciou, em tom de desabafo, uma diatribe contra o ensino universitário de jornalismo, borrifando suas queixas tanto sobre as faculdades privadas quanto públicas.
“Sinto muito, mas é preciso reconhecer que a universidade está a anos-luz de atraso em relação ao mercado. Minha filha faz jornalismo em uma faculdade renomada de jornalismo em São Paulo, que não vou dizer qual é, e outro dia chegou em casa me mostrando o que está aprendendo nas aulas de Jornalismo Online. Eu comecei a rir, porque aquilo era uma piada, um conteúdo que não serve para nada. A universidade precisa ensinar o jornalista preparado para o que o mercado exige. O jornalista precisa aprender a ser gente, aprender a ser funcionário, aprender a respeitar hierarquia e a obedecer ordens”.
“Pronto, falei”, arrematou.
Para ler o texto completo de Pedro Aguiar clique aqui

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