quarta-feira, 30 de julho de 2014

Crítica a certa crítica do amor

140729-Klimt

Numa célebre passagem da sua obra, Jorge Luis Borges põe um narrador a conversar com um velho chinês. O idoso explica-lhe que uma infinidade de possibilidades coexistem num mesmo tempo, mas em mundos paralelos – como na parábola do gato de Schrödinger, fundadora da moderna física quântica, em que no momento em que abrimos uma caixa, com veneno e um gato, o felino está ao mesmo tempo morto e vivo. Diz o chinês da história de Borges: “Não existimos na maioria desses tempos; em alguns existe você e não eu; noutros eu e você não; noutros os dois. Neste que a sorte me permite, você chegou a minha casa; noutro, você está atravessar o meu jardim e encontra-me morto.”
Perdemos um ônibus por 30 segundos e encontramos alguém que de outra maneira teríamos falhado. O amor é um verdadeiro acaso. Escrevia Niklas Luhmann, “o amor não é apenas uma anomalia, mas antes uma improbabilidade absolutamente normal”. No processo amoroso, um encontro fortuito abre a possibilidade de criar um mundo, através da capacidade de ver a partir da diferença a dois. Segundo Badiou, ele não nos leva para “cima” nem para “baixo”, permite-nos construir um mundo de uma forma descentrada da visão, que ultrapassa o nosso simples interesse individual. Modifica o tempo e “inventa uma forma diferente de durar na vida”. É um duro desejo de durar, mas é sobretudo a assunção de um desejo de uma duração desconhecida.
A esta ideia de um amor que constrói a partir de um encontro fortuito uma verdade que dura no tempo, opõe-se a concepção de que o amor não passa de uma capa ideológica para a reprodução, em que a paixão não seria mais que a sua prisão.
Para ler o texto completo de Nuno Ramos de Almeida clique aqui

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP