sábado, 19 de julho de 2014

PABLO NERUDA: Vozes de lá e de cá

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Há 110 anos, em 12 de julho de 1904, o mundo escutava pela primeira vez a voz do recém-nascido que algum dia se chamaria Pablo Neruda. Bem, o mundo não: os que ouviram aquele vagido do futuro poeta foram a parteira e a mãe do menino, que foi batizado com o nome inverossímil de Neftalí Reyes.
É essa voz que desejo evocar agora neste aniversário mais que centenário, um enigma e uma mensagem que se escondem nas profundezas da fala tão especial e inesquecível de Neruda.
Não fui amigo pessoal do poeta. Conheci-o quando eu era adolescente, muito de passagem: diversas visitas com outros estudantes a sua lendária casa de Isla Negra, algumas ocasiões em que topei com ele em apartamentos de amigos comunistas de meus pais, um par de palavras de admiração e agradecimento trocadas depois de um recital. Em cada uma dessas oportunidades eu pude ouvi-lo, às vezes de maneira superficial, outras, mais extensamente, declamar seus versos. E o que mais me chamou a atenção, quase de imediato, era como a sensualidade vulcânica da torrente de suas palavras escritas contrastava com a monotonia quase tediosa, um zumbido sem ênfase e sem graça com que o autor insistia em enunciar sua obra. Era como se uma tartaruga procurasse relatar a corrida alucinante de uma lebre, passo a lento passo, palavra após calmante palavra, sem a menor paixão, num ritmo sonífero. Aqueles versos tão sutis, caudalosos, desatados, sacudidos entre respirações e soluços, mereciam, assim eu pensava, uma encarnação sonora equivalente, igualmente dramática e opulenta.
Para ler o texto completo de Ariel Dorfman clique aqui

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