AGITOS URBANOS: Para além da inveja do tênis
Na década de 1990, um sintoma aterrorizou o país: cresciam relatos de meninos que agrediam ou até matavam outros, um pouco mais ricos, para roubar um par de tênis de grife, no que parecia ser o paradigma do crime por motivo fútil. Cunhei a expressão “inveja do tênis”, para explicar por que algo tão supérfluo, vaidoso ou vão quanto um item de conforto pode mobilizar paixões que a luta por grandes necessidades da vida nem sempre desperta. Sustentei que as “causas nobres”, como a educação, a saúde, a segurança, o transporte, o emprego, não conseguiam gerar o investimento psicológico que um artigo de grife suscita. O caso dos rolezinhos traz de novo à tona esse tema, mas numa chave bem diferente.
Lembremos as manifestações de 2013. Em julho de 2011, Juan Arias, que há anos cobre com competência para o jornal espanhol “El país” o que acontece no Brasil, lamentava: por que investimos tanta energia na Parada Gay – que hoje, em São Paulo, rivaliza com o carnaval carioca em mobilização de libido – e não depositamos sequer uma parcela disso na luta por questões prementes, como poderiam ser as que mencionei acima? Pois as manifestações de maio e junho de 2013 devem ter realizado alguns sonhos do correspondente espanhol. Elas marcaram uma grande novidade em nosso país, com multidões indo às ruas para traduzir suas carências, suas necessidades, em direitos, em exigências, em política. Ponto para o Brasil.
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