O Haiti também é aqui
O Haiti deve ser a maior e mais miserável ilha do mundo — ele começa no Caribe e termina em Brasileia, cidadezinha do interior do Acre, na fronteira com a Bolívia, cuja população, de 20 mil habitantes, caberia inteira no Estádio da Portuguesa de Desportos, em São Paulo.
Eu pensava nesta geografia improvável enquanto mexia o pé encharcado de suor dentro de uma meia grossa e um sapato fechado, num táxi guiado por um motorista gordo que eu via cochilar pelo espelho retrovisor, depois do almoço, acelerando a 140 km/h sob um sol acreano suportável unicamente pelo couro grosso do gado zebu que passava esparso pela janela do automóvel, salpicando de borrões brancos uma tediosa paisagem de pasto e palmeiras a perder de vista.
Enquanto sentia o vento quente no rosto, eu me lembrava que, apenas três anos antes, eu e o fotógrafo Tiago Queiroz, ambos na época a serviço do jornal O Estado de São Paulo, nos surpreendíamos com uma lufada semelhante de calor pegajoso ao desembarcar, junto com dezenas de militares, de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) em Porto Príncipe, capital do Haiti, no momento que o país embalava 300 mil pessoas em sacos plásticos depois de uma das piores tragédias humanitárias de que se tem notícia no mundo.
Agora, em 2013, Brasileia era o destino. Desta vez, eu estava acompanhado por Gabrielle Apollon, uma pesquisadora canadense e descendente de haitianos. Viajávamos como membros da Conectas, uma organização internacional de direitos humanos. Sabíamos que dezenas de haitianos, vítimas daquele mesmo caos de 2010, estavam chegando todos os dias para tentar uma nova vida. Queríamos vê-los.
Para ler o texto completo de João Paulo Charleaux clique aqui
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