"Pinto o meu poema" - José Fernando Magalhães
Pinto o meu poema
Pinto o meu poema
E desenho o meu
caminho
Num mar de letras.
Às vezes junto
alfazema
Outras jasmim,
Tudo no mesmo
cadinho
E às vezes umas
fraquezas.
Pinto o amor
As cores,
Os cheiros
Sentimentos e
sabores
Procuro desenhar
com primor
O meu mar de
cativeiros
Onde todos somos
atores.
Pinto-me do cheiro
do pomar
E de suaves cores
pastel
Amo as palavras
por si mesmas
Procuro um sentido
para me desenhar
E sentado num
capitel
Dissolvo a doçura
que o sal tem
E quando um dia eu
me acabar
Desprendo-me do
meu corpo
Parto com as aves
E vou para o lugar
do nunca
Um sítio singular
Onde não vive
ninguém
De uma ponta, à
outra estrema
Numa enorme
enseada.
Deixo as minhas
mãos
De uma maneira
ágil
Pintarem o meu
poema,
Na minha janela
privada
Entrego-me ao meu
destino frágil
E à imensa
linguagem do silêncio
Onde tudo é quase
nada.
José Fernando
Magalhães
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