sábado, 22 de fevereiro de 2014

"SENSO SEM DIREÇÃO" - Goimar Dantas

SENSO SEM DIREÇÃO

Eu me desdobro: origâmica
E me esculpo: cerâmica
Escorro em lava: vulcânica – sobre você.
E então me vejo: reflexo.
Um Rio Tejo em seu fluxo,
cujo desejo profundo é se misturar ao mar.
Um oceano nostálgico
de águas salgadas, febris.
E correntezas incertas.
Ondas gigantes e hostis.
E ainda assim eu me entrego.
Submergindo, me enredo:
sereia plena, feliz.
Espécie de néctar, fruta:
pra sorver absoluta
na boca da sua noite.
Sumo pra suar em febre
e entranhar em sua pele:
esse horizonte, fronteira.
Penhasco, abismo, ladeira.
Avesso do meu direito
onde espero me perder.

Goimar Dantas, RN, 1972

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