sábado, 25 de abril de 2015

Líbia: o pontão da morte

matteo / Flickr

Corpos rígidos de negros jovens, corpos velhos, corpos de crianças, de mulheres grávidas. Cinquenta, setenta, cem, cento e cinquenta, duzentos, duzentos cinquenta, quatrocentos, setecentos... podem passar de 900 desta vez. Ou mais.
Ninguém sabe ao certo. A contabilidade da morte é opaca quando o cemitério é o mar e o esquife é a noite.
O Mediterrâneo se transformou no grande sepulcro da vergonha em nosso tempo.
Barcos clandestinos cortam suas águas atulhados de desespero e desolação e naufragam sob o peso da devastação colonial que faz da África hoje o único lugar no mundo onde a fome só cresce, as guerras não tem nome e a barbárie étnica apaga com sangue as fronteiras traçadas pela geometria do europeu branco e predador.  
Esse horizonte funesto ganhou um porto à altura do seu desalento: a Líbia.

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