quarta-feira, 1 de maio de 2024

"PRIMEIRO DE MAIO na vertical é transformar o instinto em razão e esta naquele" - Fernando Correia da Silva

 




PRIMEIRO DE MAIO na vertical é transformar o instinto em razão e esta naquele

 



É conseguirmos ver o Invisível.


É usarmos infravermelhos para localizar o MONSTRO agora diluído em estruturas canibais, omnipotência, omnipresença.


É sabermos detectar a tempo as suas teias e evitar nelas pousar.


É rasgarmos as suas máscaras, sejam elas lotes de ações ou abertura de caça ao preto e ao cigano.


É darmos valor à vida humana, em vez do preço que ele pretende atribuir-lhe.


É sermos indiferentes à diferença entre irmãos, homens que todos somos.


É não deixarmos que ele converta as nossas vidas num andar solitário por entre a gente.


É não deixarmos que ele transforme os homens em colónias de formigas.


É conseguirmos pôr no Soweto um pianista japonês a emocionar a assistência com um noturno de Chopin.


É não deixarmos que tantos morram à fome enquanto permanecem terras férteis em pousio e há trigo acumulado nos celeiros.


É não consentirmos que as máquinas tomadas pelo MONSTRO nos deixem com a alma em desarrimo.


É não deixarmos que ele transforme o planeta em esgoto a céu aberto.


É não aceitarmos as gorjetas que ele oferece para olharmos para o outro lado.


É não deixarmos que nos atire para a lixeira.


É não consentirmos que o Direito Comercial lace, aperte, esmague e devore os Direitos do Homem.


É arrimar-nos a um tronco largo quando a jiboia ataca, comprimento ela não tem para laçar-nos juntamente com a árvore.


É puxarmos da catana e retalhá-la se ela insistir no ataque.


É dinamitarmos a digestão antropofágica do Labirinto.


É espantarmos os disciplinados cumpridores de ordens, os bandos de corvos sempre à espera da sua quota-parte de carniça.


É ensinarmos as gaivotas a cagar na cabeça de arrogantes e presunçosos.


É darmos um banho de lixívia aos engravatados distribuidores de paninhos e água quente.


É cravarmos malaguetas no umbigo do Dr. Prepotência, e outras, como flechas, no cu que o Dr. Banqueiro tem como cofre.


É nunca ficarmos de costas para os traidores que há na vida.


É estarmos sempre atentos às manobras do Piloto que elegemos.


É sabermos transformar as espadas em arados e as metralhadoras em berbequins.


É levarmos os mansos a possuir a terra.


É consolarmos os que choram.


É saciarmos os que têm fome e sede de justiça.


É acreditarmos que, embora Invisível, será ainda possível empurrar o génio do Santo Lucro para dentro da garrafa, como outrora acreditámos que era possível vencer o Hitler, mesmo quando todos, até os nossos filhos, garantiam que ele já era o rei do mundo.



 

Fernando Correia da Silva








Primeiro de Maio



Primeiro e único


Verdadeiro


Maio acordado


Maio maduro


Penoso


Duro


Nunca vergado.


Floresta de braços e abraços


Festa dor do Maio primeiro


Carne e alma


Seio fecundo


Onde corre o leite


que alimenta o mundo.


Ir e voltar


Voltar a ir e a vir


Entre a dor e a alegria


Penoso caminho da vida inteira


Para prender um braço de sol


Entre a noite e o dia.


Mãos crispadas


Calejadas


Calor que os filhos aquece


Na esperança de outros sóis


Calar da fome que os adormece


Entre o antes e o depois


Da luta que não esmorece.


Maio de medos e canções


Maio de sempre


Maduro Maio


No fundo dos corações


Terra e vida


Vida dos que amam a terra


Antes morta que vencida.


Na palma da mão


Aberta e solidária


Festa da alegria


Maio dor e lágrimas


Renascido Maio


Nunca Maio da agonia.


Sol inteiro roubado


Sol do acordar de Maio


Vermelho e quente


Sol que é de todos


Maio de sol nascente.



 

Adão Cruz



Para ter acesso ao mais recente livro de poesia "Nas sílabas do ventodo autor do blog clique aqui


0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP