quarta-feira, 29 de maio de 2024

"Morte ao meio dia" - Manuel Simões

 



Morte ao meio dia

 




No meu país não acontece nada


à terra vai-se pela estrada em frente


Novembro é quanta cor o céu consente


às casas com que o frio abre a praça


Dezembro vibra vidros brande as folhas


a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal


que o mais zeloso varredor municipal


Mas que fazer de toda esta cor azul


que cobre os campos neste meu país do sul?


A gente é previdente cala-se e mais nada


A boca é pra comer e pra trazer fechada


o único caminho é direito ao sol


No meu país não acontece nada


o corpo curva ao peso de uma alma que não sente


Todos temos janela para o mar voltada


o fisco vela e a palavra era para toda a gente


[…]


O meu país é o que o mar não quer


é o pescador cuspido à praia à luz do dia


pois a areia cresceu e a gente em vão requer


curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia


A minha terra é uma grande estrada


que põe a pedra entre o homem e a mulher


O homem vende a vida e verga sob a enxada


O meu país é o que o mar não quer



 

Manuel Simões



Para ter acesso ao mais recente livro de poesia "Nas sílabas do vento" do autor do blog clique aqui


0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP