"Morte ao meio dia" - Manuel Simões
Morte ao meio dia
No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em
frente
Novembro é quanta cor o céu
consente
às casas com que o frio abre a
praça
Dezembro vibra vidros brande as
folhas
a brisa sopra e corre e varre o
adro menos mal
que o mais zeloso varredor
municipal
Mas que fazer de toda esta cor
azul
que cobre os campos neste meu
país do sul?
A gente é previdente cala-se e
mais nada
A boca é pra comer e pra trazer
fechada
o único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma
alma que não sente
Todos temos janela para o mar
voltada
o fisco vela e a palavra era
para toda a gente
[…]
O meu país é o que o mar não
quer
é o pescador cuspido à praia à
luz do dia
pois a areia cresceu e a gente
em vão requer
curvada o que de fronte erguida
já lhe pertencia
A minha terra é uma grande
estrada
que põe a pedra entre o homem e
a mulher
O homem vende a vida e verga sob
a enxada
O meu país é o que o mar não
quer
Manuel Simões
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