Apertem os cintos, o piloto sumiu
E, de repente, os ônibus de São
Paulo pararam, em flagrante ilegalidade. Pode ser que assim alguém se refira ao
fato ocorrido ontem na cidade paulistana, mas estará incorrendo em grave
equívoco de perspectiva, falando sobre um mundo que já não existe.
Primeiro, os fatos sociais não
simplesmente brotam do nada, ou seja, não ocorrem “de repente”. Há sempre um
contexto histórico que os embasam. Segundo, não são os ônibus que param e sim
os motoristas, que são, de fato, trabalhadores. Dar vida a seres inanimados, no
caso os ônibus, serve apenas para negar existência aos seres humanos que se
relacionam ao fato, a não ser para puni-los, quando se trata de mobilização
popular. E, terceiro, a legalidade não é suficiente para qualificar o fato
ocorrido e, ademais, seu parâmetro tradicional é abalado, fazendo irromper uma
sensível mudança. Afinal, não são os fatos sociais que devem se adaptar ao
direito e sim o direito que deve refletir esses mesmos fatos.
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