segunda-feira, 29 de julho de 2024

"Vento preso à cidade" - Adão Cruz

 



Vento preso à cidade



A noite passou já as estrelas se apagaram novo sol não tarda


já doura o fio dos montes e o fantasma é um lençol no meio


do chão porque eu sou o vencedor de todos os fantasmas




Vai ser quente o dia apesar do ar frio da noite vem comigo


olha aquelas duas palmeiras que viçosas tão altas na mira do


céu e eu sou maior do que o céu




O desvio termina aqui o caminho é novo ainda que não


permita grande correr não temas tudo há-de ser como eu


quiser porque eu sou maior do que eu




Por cima do teu corpo há um leito de espuma que eu bebo de


um trago espuma do mar porque eu sou maior do que o mar


e mais fundo do que o meu ser




Brota das entranhas um mundo novo onde o coração pulsa à


transparência da vida que nasce da sombra da noite porque


eu sou o alvorecer de todas as manhãs




A sombra da floresta é apenas sombra onde a medo o sol


penetra e cria fantasmas nas árvores e monstros nos


charcos mas eu sou o guardião do templo do sol




A nova estrada é de ilusão todos sabem não tem altos nem


baixos o caminho da cidade é o caminho do desértico centro


da cidade ali à mão mas a cidade sou eu




O mar de ondas verdes e fundas quebradas em catedrais


de espuma nas rochas negras e nuas refulge de prata os


abraços frios da alma mas eu sou maior do que o mar e da


alma há muito me perdi




O sol brilha na areia escaldante onde o corpo se deita num


leito de espuma espargida de mil gotas e o céu azul beija


o mar ao longe onde os olhos cansados sempre teimam


repousar




No sono da tarde vai-se quebrando o pensamento em


pedaços de luz e sombra que o vento preso à cidade resolve


levar para bem longe como plácidas gaivotas porque eu sou


escravo e não senhor do pensamento




Adão Cruz



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