sexta-feira, 10 de maio de 2024

"Canção negreira" - José Craveirinha

 



Canção negreira




Amo-te


com as raízes de uma canção negreira


na madrugada dos meus olhos pardos.




E derrotas de fome


nas minhas mãos de bronze


florescem languidamente na velha


e nervosa cadência marinheira


do cais donde os meus avós negros


embarcaram para hemisférios da escravidão.




Mas se as madrugadas


das minhas órbitas violentadas


despertam as raízes do tempo antigo...


mulher de olhos fadados de amor verde-claro


ventre sedoso de veludo


lábios de mampsincha madura


e soluções de espasmo latejando no quarto


enche de beijos as sirenas do meu sangue


que meninos das mesmas raízes


e das mesmas dolorosas madrugadas


esperam a sua vez.




José Craveirinha


(Poeta moçambicano)



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