DOSSIÊ: Biografias e liberdade de expressão no Brasil
Carlos Brickmann em 15/10/2013
Não falemos de personagens atuais; falemos de um
passado já antigo. A família imperial poderia processar-nos por relatar, num
livro ou numa matéria jornalística, o caso entre D. Pedro 1º e a Marquesa de
Santos? Ou de um passado mais recente: a família do ex-presidente Juscelino
Kubitschek poderia processar-nos por relembrar o caso que manteve por vinte
anos com Maria Lúcia Pedroso? Ou, indo mais longe, a família de Adolf Hitler
poderia tentar proibir que se publique sua biografia, onde constam fatos
desabonadores para sua reputação?
Voltando aos tempos atuais: Palmério Dória, em seu Honoráveis
Bandidos, faz uma narrativa cruel sobre a família Sarney. Teremos de
enfrentar a realidade de que Sarney, o donatário do Maranhão, o presidente do
partido de apoio ao regime militar, é mais tolerante do que nossos artistas
supostamente libertários?
Não, não dá. E dizer que os biógrafos ganham ao
narrar a vida de seus personagens, enquanto estes nada recebem, é uma grosseira
tentativa de mistificação. Caetano Velloso, por exemplo, nada pagou à atriz
Vera Zimmerman, sua musa na composição “Vera Gata”; não teria sentido pagar à
família de Betinho pela homenagem a ele prestada por Aldir Blanc e João Bosco
em “O Bêbado e a Equilibrista”; Laurentino Gomes, em sua festejada trilogia
sobre o início do Brasil como nação (1808, 1822 e 1889),
deveria pagar a quem – à família Orléans e Bragança, ao Chalaça, à família
Hohenzolern, da imperatriz Leopoldina, ao extinto reino das Duas Sicílias,
origem da imperatriz Teresa Cristina?
O fato é que todos gostam da liberdade de expressão
quando esta liberdade serve para falar bem deles. Poucos a toleram quando a
realidade não é tão favorável. E o argumento de que, numa biografia, pode haver
elementos de inverdade, é absolutamente ridículo: para isso existe a Justiça.
E, cá entre nós, este colunista leu uma antiga
biografia de Roberto Carlos, O Rei e Eu, escrita por seu ex-mordomo,
Nicholas Mariano. E até hoje não consegui entender por que Roberto Carlos
lutou tanto para proibi-la e recolher os exemplares em circulação.
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“Agora, falando sério” de Lúcia Guimarães clicando aqui
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