Biografias em tempos de mercadoria
Por detrás da disputa entre os que são a favor ou contra biografias não autorizadas, o momento é singular para desvelarmos a estrutura do capitalismo cultural contemporâneo, cujos dois lados curiosamente se condicionam. E talvez deixem mais claras as angústias de Chico Buarque com sua privacidade, os anseios de Djavan por mais dinheiro e o desejo dos biógrafos pela liberdade. E possam exibir, por fim, os mecanismos da mercadoria cultural, nesses tristes dias em que se leem tantas biografias, e em que elas ganham tanta relevância.
De uma só feita, no episódio da crise das biografias, podemos observar a estatura que alcançou a figura do “Autor” – aqui entendido como o artista criador/executor – se tornando hegemônico no campo da cultura. E, junto a isso, podemos ver como ele também, contraditoriamente, possui a mesma condição de mercadoria.
O trabalho do “autor” é o epicentro de acumulação de nosso atual capitalismo cultural. Pois no momento em que toda a cultura é capitalista, a figura do autor é a que move o sistema, é a que cria novos produtos, que lança modas e discursos, é a que possui a “autoridade” (como lembram Raymond Willians e Francisco Alambert), e que produz mais valor, por sobre simples produtos, apenas com sua assinatura. É ele, portanto, a figura chave para a inovação, atitude tão cara à economia criativa de nossos tempos. O autor é a figura, no terreno da cultura, que possui a capacidade de gerar valor abstrato, tão importante ao sistema ficcional criado pelo capitalismo pós-industrial.
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