domingo, 25 de agosto de 2024

"Olhar um quadro" - António Oliveira

 



Olhar um quadro




Olhar um quadro, uma tela,


é tentar chegar à alma do pintor.


É ler os traços, as manchas, as cores,


como se lê a página de um livro,


de uma peça de teatro,


para adivinhar a trama ali urdida;


da esquerda para a direita,


de cima para baixo,


como nos ensinaram na escola,


por o pintor também ter dentro


tais esquemas,


aprendidos como toda a gente.


Mas ele é o criador,


tem as ferramentas da invenção,


sonhos, ideias, utopias,


tem pincéis e tintas e cores.


O Genesis ali, ao pé da gente,


a mostrar,


a mostrar-se,


à espera de um sorriso e,


quem sabe?


de uma lágrima,


de um gesto de enfado,


ou ver alguém à procura de assento,


para o poder ‘respirar’,


inalando a energia toda


vinda daquela tela,


daquele quadro,


onde ele foi menino,


moço e adulto,


só à espera de as pessoas poderem ver,


nas manchas, nas cores,


nos traços e nas sombras,


a criança que continua a ser,


que nunca deixou de ser,


por querer as pessoas


a sorrir, à beira dele.




António Oliveira



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