quarta-feira, 21 de agosto de 2024

"Horas sem tempo" - Adão Cruz

 



Horas sem tempo

 

 

 



Ao soar das horas mortas


 

Abro as asas que foram do meu voo.


 

Para lá do nevoeiro


 

sei que ainda moram noites de luar


 

e apetece-me gritar por ti e chorar.


 

Vestido de tempo sem espaço


 

e de espaço sem tempo


 

tento fundir a neve que me cobre


 

com o calor da tua nudez


 

mas a vida é uma teia sem olhos


 

no gélido mundo da tua ausência.


 

A respiração acabou


 

e o poema nasceu fechado


 

no teu corpo


 

tão perto e tão longe e de mim.


 

Velha semente sem terra

 

ainda sinto a tua doçura


 

nas entrelinhas da secura.



 

 

Adão Cruz



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