quinta-feira, 15 de agosto de 2024

"Nada" - Sofia Loureiro do Santos


 


Nada



1.


Ao meu lado


naquele espaço que já não preenches


ouço uma voz ausente.


No silêncio desta tarde morna e quieta


aguardo um respirar uma pergunta


um chamamento


aqueles pequenos nomes que inventavas


e que eu sabia


num misto de ternura e indignação


serem só nossos.


Ao meu lado


dói-me tanto já não seres.


 

2.


Tantos móveis lençóis


chávenas pratos copos


almofadas roupa quartos


esponjas sabonetes


tudo tão grande tanto espaço


num desperdício evidente.


E eu tão minúscula encolhida quase inexistente


que não preciso de nada mas de nada


de nada


a não ser de ti


que não estás.


 

3.


Deixo as janelas abertas


para que o vento abane a casa.


Batem portas voam cortinas


num ruído da mais profunda


solidão intemporal.




Sofia Loureiro do Santos



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