terça-feira, 31 de agosto de 2021

"Sobre a cintura" - Eugénio de Andrade


 



Sobre a cintura




 

 

Deixa a mão


caminhar


perder o alento




até onde se não respira.




Deixa a mão


errar


sobre a cintura


apenas conivente


com o nácar da língua.




Só um grito desde o châo


pode fulminá-la.




A morte


não é um segredo


não é em nós jardim de areia.




De noite


no silêncio baço dos espelhos


um homem


pode trazer a morte pela mão.




Vou ensinar-te como se reconhece



repara



é ainda um rapaz


não acaba de crescer




nos ombros


                  a luz


desatada




a fulva


lucicez dos flancos.



A boca sobre a boca nevava.





Eugénio de Andrade

 

 



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