"As asas do pensamento" - José Paulo Pinto Lobo
As asas do pensamento
O gato preto
empoleirado no parapeito da janela do apartamento fronteiro.
Eu, debruçado na
janela da minha cozinha. Como habitualmente, nas madrugadas modorrentas.
Convida-me a mais uma conversa.
«Então, com
insónias novamente?»
«Não, estou a
beber a paz da alameda e a deixar voar os pensamentos.»
«Deve ser
interessante voar. E como são as asas do pensamento?»
«São asas
fortes. Levam-nos a qualquer lugar, no tempo e no espaço. Fazem-nos viajar para
bem longe.».
«Sim, mas que
forma e cor têm?»
«Podem ser de
vários tamanhos, feitos e cores. Até diáfanas, absolutamente transparentes. Asas
enormes como as do condor que planam lá bem no alto acima de qualquer ser
vivente ou pequenas como as do colibri, batendo tão rapidamente que mal se
podem ver.»
«Umas vezes
negras como as dos corvos ou cinzentas como as da coruja-lapónica. Noutras
multicolores como as dos papagaios do Amazonas, dos periquitos arco-íris da
Austrália ou a cauda aberta dos pavões.»
«Mas afinal não
és tu que escolhes as asas dos teus pensamentos?»
«Não, são eles
que escolhem por mim e me fazem viajar por nuvens carregadas, trovões e
tempestades, negrume das trevas, montanhas brancas, prados verdejantes, praias
douradas iluminadas pelo sol ou simplesmente me levam a vogar no infindável céu
azul.»
«E não tens medo
de cair das alturas?»
«Sim, claro!
Quando inopinadamente aparece um caçador chamado realidade.
Mas mesmo com as
asas feridas, elas rapidamente se curam e podemos novamente esvoaçar, pairar,
pousar onde quisermos.»
«Gostei.
Ensinas-me a voar?»
José Paulo Pinto Lobo
Cascais, 24 de Agosto 2021
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