"Escrito na terra" - Eugénio de Andrade
Escrito na terra
Da migração dos pássaros falaremos devagar
noutra ocasião
da cal espessa entornada na boca
dos poços
onde o silêncio apodrece.
Há uma razão para não rejeitarmos
tão cruel metáfora do sémen
descobrimos
nas altíssimas e lúcidas bagas de setembro
uma sabedoria próxima ainda das nascentes.
Era isto
onde uma só pedra queima os dedos.
Se queres um exemplo
pega neste mar estranho
olha-te nele
mas não te demores a contemplar
a branca quietude das violetas.
Vamos
é noite agora é tempo
enquanto meus lábios brilham
de alguém morrer sobre o teu corpo.
Eugénio de Andrade
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