sexta-feira, 13 de agosto de 2021

"Jardim secreto" - Daniel Costa-Lourenço

 




Jardim secreto



 

 

 

 

Quando finalmente adormecer,


Será na tarde que chegará solta, indolente, de pés descalços

                                                                           (sobre a relva,

      

De lábios doces por experimentar,


Sem vestígios de nós os dois e todo o mundo, sedutor,


Num abraço de juramento, de corpos estendidos e mãos


                 (tateando o espaço perfumado de fruta fresca.


É domingo, és tu o jardim secreto desenhado a sonhos,


Que não chegam mas torturam o lusco-fusco dos meus


                                                                              (olhos,


Semicerrados, inquietos, ansiosos.


És mais música, menos poema, voz de toda a insolência.


Uma consolação aguardada, evidente e íntima,


Um desejo indomável que não deixa vestígio visível nem


                                                (sopro morno sobre a pele.


Acorda-me.


Estes não são dias como os outros e quando ceder ao


                                                                  (pôr-do-sol,


Tudo desaparecerá sobre o silêncio de uma floresta


                                                   (aguardando o fogo.


Mas tu não. Tu ficas.


Tu ficas e guardas o sol para quando eu não quiser


mais chuva.

 



 

 

 

Daniel Costa-Lourenço

 



 


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