"Jardim secreto" - Daniel Costa-Lourenço
Jardim secreto
Quando finalmente adormecer,
Será na tarde que chegará solta, indolente, de pés
descalços
(sobre a relva,
De lábios doces por experimentar,
Sem vestígios de nós os dois e todo o mundo,
sedutor,
Num abraço de juramento, de corpos estendidos e
mãos
(tateando
o espaço perfumado de fruta fresca.
É domingo, és tu o jardim secreto desenhado a
sonhos,
Que não chegam mas torturam o lusco-fusco dos meus
(olhos,
Semicerrados, inquietos, ansiosos.
És mais música, menos poema, voz de toda a
insolência.
Uma consolação aguardada, evidente e íntima,
Um desejo indomável que não deixa vestígio visível
nem
(sopro morno sobre a pele.
Acorda-me.
Estes não são dias como os outros e quando ceder ao
(pôr-do-sol,
Tudo desaparecerá sobre o silêncio de uma floresta
(aguardando o fogo.
Mas tu não. Tu ficas.
Tu ficas e guardas o sol para quando eu não quiser
mais chuva.
Daniel Costa-Lourenço
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