sábado, 19 de março de 2022

"Oh as casas as casas as casas" - Ruy Belo

 




Oh as casas as casas as casas






Oh as casas as casas as casas


as casas nascem vivem e morrem


Enquanto vivas distinguem-se umas das outras


distinguem-se designadamente pelo cheiro


variam até de sala pra sala


As casas que eu fazia em pequeno


onde estarei eu hoje em pequeno?


Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?


Terei eu casa onde reter tudo isto


ou serei sempre somente esta instabilidade?


As casas essas parecem estáveis


mas são tão frágeis as pobres casas


Oh as casas as casas as casas


mudas testemunhas da vida


elas morrem não só ao ser demolidas


Elas morrem com a morte das pessoas


As casas de fora olham-nos pelas janelas


Não sabem nada de casas os construtores


os senhorios os procuradores


Os ricos vivem nos seus palácios


mas a casa dos pobres é todo o mundo


os pobres sim têm o conhecimento das casas


os pobres esses conhecem tudo


Eu amei as casas os recantos das casas


Visitei casas apalpei casas


Só as casas explicam que exista


uma palavra como intimidade


Sem casas não haveria ruas


as ruas onde passamos pelos outros


mas passamos principalmente por nós


Na casa nasci e hei-de morrer


na casa sofri convivi amei


na casa atravessei as estações


Respirei – ó vida simples problema de respiração


Oh as casas as casas as casas





Ruy Belo






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