sábado, 19 de março de 2022

A.C. Grayling: trecho de "As religiões não merecem tratamento especial"



Dado que hoje – 16 de novembro – é reconhecido pela UNESCO como o Dia Mundial da Filosofia, resolvi postar a tradução de um pequeno trecho de um artigo do filósofo inglês A.C. Grayling. O texto, que me parece muito oportuno no momento atual, intitula-se “As religiões não merecem tratamento especial”. Já no século XVII, o filósofo Descartes dizia, no seu Discurso do método, que, “a pluralidade de vozes não é uma prova que valha nada para as verdades um pouco difíceis de descobrir, porque é bem mais provável que um homem só as tenha encontrado do que todo um povo”. Ou seja, ele sabia que nenhuma crença – nenhuma crença religiosa, por exemplo – merece intrinsecamente mais respeito do que qualquer convicção individual. Mas passemos às palavras de A.C. Grayling clicando aqui









Bíblia laica traz evangelho de filósofos – Entrevista com A. C. Grayling



Obra que está entre as mais vendidas no Reino Unido reúne citações de pensadores na estrutura do livro cristão. Autor A. C. Grayling diz que não se opõe à Bíblia original, e sim mostra "a sabedoria que nasce dos próprios homens". Para ler a entrevista clique aqui











12 reflexões de A.C. Grayling sobre religião (Fonte: Aqui )




Apologistas religiosos reclamam amargamente que ateus e secularistas são agressivos e hostis em suas críticas. Eu sempre digo: olha, quando vocês estavam no comando, vocês não discutiam com a gente, apenas nos queimavam na fogueira. Agora o que estamos fazendo é apresentar a você alguns argumentos e algumas perguntas desafiadoras, e você reclama.




 

Não acredito que existam deuses e deusas, exatamente pelas mesmas razões que não acredito que existam fadas, duendes ou duendes, e essas razões deveriam ser óbvias para qualquer pessoa com mais de dez anos.




 

As pessoas devem acreditar no que quiserem, desde que não prejudiquem ninguém. Além das expectativas normais de educação, não está claro por que as pessoas devem exigir que suas crenças pessoais sejam tratadas com especial sensibilidade pelos outros, a tal ponto que, se os outros não conseguirem andar na ponta dos pés com respeito ao seu redor, começarão a jogar bombas.




 

Experimente iluminar sua casa com oração em vez de eletricidade e veja qual funciona.




 

Católicos sensatos há gerações têm ignorado as opiniões sobre contracepção sustentadas por velhos reacionários no Vaticano, mas, infelizmente, visto que é função de todas as doutrinas religiosas manter seus devotos em um estado de infância intelectual (de que outra forma eles mantêm os absurdos parecendo críveis?), um número insuficiente de católicos tem sido capaz de ser sensato.




 

A religião e a ciência têm uma antepassado comum - ignorância.




 

Todos têm o direito de acreditar. As igrejas têm exatamente o mesmo direito de existir que um clube de futebol, um sindicato ou um partido político. Mas se você e eu estabelecemos a Igreja das Fadas do Jardim, então não acho que deveríamos nos encontrar automaticamente com a rainha, ter direito a assentos na Câmara dos Lordes ou obter dinheiro público para nossas escolas de fadas.




 

Há uma perspectiva alternativa bonita e estimulante que oferece visão, consolo, inspiração e significado, que nada tem a ver com religião, e tudo a ver com o melhor, mais generoso e mais compreensivo entendimento da realidade humana.




 

Inculcando os vários concorrentes - competir, observe - falsidades das principais religiões em crianças pequenas é uma forma de abuso infantil e um escândalo.




 

O mau uso da razão ainda pode devolver o mundo à noite pré-tecnológica; muitos fanáticos religiosos anseiam por esse resultado e ficam felizes em usar a tecnologia mais recente para alcançá-lo.




 

A ciência é o resultado de estarmos preparados para viver sem certezas e, portanto, uma marca de maturidade. Envolve dúvidas e pontas soltas.




 

Quando eu tinha 14 anos, um capelão da escola me deu uma lista de leituras. Eu li tudo e voltei para ele com uma pergunta: como você pode realmente acreditar nessas coisas?


 

 





O Bom Livro: uma Bíblia Laica



Talvez se considere vão oferecer à humanidade uma obra como esta na esperança de que seja útil,  pois  é  muito  grande  a  diversidade  de  princípios,  ideias  e  preferências  entre  as  pessoas, bem  como  a  rigidez  de  nossas  noções  e  nossa  relutância  em  mudar.  Mas,  na  verdade,  seria ainda mais vão oferecer uma obra por qualquer outra razão. Que a sinceridade das intenções seja, então, a principal recomendação deste livro. Nenhuma obra desta ou de qualquer outra espécie  pode  agradar  a  todos,  qualquer  que  seja  seu  propósito;  mas  esta  pelo  menos  traz satisfação a quem a fez, porque  visava  sinceramente  à  verdade  e  à  utilidade  e  procedeu seguindo os caminhos dos sábios. Ao longo de toda a sua história, a coletividade humana teve mestres  pensadores  cujas  grandes obras são monumentos para a  posteridade; já é  aspiração suficiente  ser  um  guia  para  percorrê-las  e  delas extrair  recursos  para  promover o bom e o verdadeiro. Assim, todos  os  que lerem este livro, se o fizerem com cuidado, poderão  ganhar  alguma coisa. Não é um elogio ao próprio livro, mas aos leitores atentos, pois o valor que se encontrar nele provirá de seus intelectos. Se houver alguém que não aprenda nada com este livro, será não por causa dos defeitos da obra, e sim pela excelência do leitor. Se os leitores julgarem com sinceridade, nenhum deles poderá se sentir ofendido ou prejudicado pelo que aqui se submete à sua avaliação. E todos os que acorrerem famintos a esses celeiros das safras colhidas por seus semelhantes e antepassados aqui encontrarão alimento. Toda arte e investigação e, analogamente, toda ação e  busca de um objetivo visa a algum bem; portanto, o bem supremo foi corretamente descrito como aquele a que visam todas as coisas. Se no que fazemos há um objetivo que  desejamos por si  mesmo, e tudo o mais desejamos por causa dele, esse objetivo deve constituir nosso maior e mais alto bem. Buscar o conhecimento  desse  bem não pode  deixar  de  exercer  grande  influência  na  vida. Quando os arqueiros escolhem um alvo, o provável é que realmente assestem sua mira nele; não faremos o mesmo tendo como nosso alvo descobrir e agir segundo o que é certo? Determinar o que é o bem e quais os melhores caminhos para conhecê-lo é o mais importante de todos os nossos empenhos e é verdadeiramente a arte-mestra de viver. Aqui em tuas mãos  está uma tentativa  dessas,  que  consiste  em  destilados  da  sabedoria  e experiência da humanidade, com o propósito de que a reflexão sobre eles possa ser de proveito e reconforto. Já se observou que quem pesca num rio pode ali encontrar algo que lhe seja útil, mas  quem leva suas redes ao oceano pode capturar peixes maiores e de maiores profundidades. Nas  páginas  que  se  seguem, esses  grandes  peixes  nos  são  trazidos  por pescadores  de  sabedoria,  que  retornaram  das  tempestades  e  das  bonanças  de  suas  viagens, vindos de costas próximas ou distantes. Quem se elevar acima das preocupações do cotidiano, na esperança de encontrar e seguir a verdade, aqui a descobrirá. Todo momento na busca da verdade traz recompensa às fainas do explorador, ao procurá-la na grande companhia daqueles que trilharam os caminhos da vida antes de nós. Estas são dádivas que eles nos legaram; deram generosamente o melhor de si, e suas  dádivas  foram  aqui  irrestritamente  aceitas. Já  se  escreveram outros  livros  semelhantes; textos  de  muitas  mãos,  antigos  ou  não,  tomados,  montados,  recortados,  intercalados, complementados e modificados, tendo em vista uma finalidade conhecida. Aqui o procedimento foi o mesmo, mas com finalidade diversa: não se pede que se aceitem crenças ou se obedeçam a mandamentos, não se impõem obrigações nem se ameaçam punições; o fito é ajudar e guiar, sugerir, instruir, advertir e consolar; acima de tudo, erguer a luz da mente e do coração humano diante das sombras da vida. Pois  vivemos  em  ações, não em anos;  nos  pensamentos, não  na  respiração; e  devemos contar  nosso  tempo  pelo  palpitar  do  coração  quando  amamos  e  ajudamos,  aprendemos  e lutamos, e  com  nossos  talentos  realizamos  o  que  possa  aumentar  as  reservas  de  bem  do mundo. Lançar  luz  sobre  a  ignorância  e  a  falsidade  é  um  serviço  ao  entendimento  humano; mas serviço ainda maior é mostrar o caminho até um terreno mais elevado de onde se descortina uma  vista  mais  clara  da  vida.  Assim,  certamente  muitos  leitores  encontrarão proveito  nas páginas  a  seguir,  se  lerem  com  a  atenção  que  elas  merecem. Como  poderia  ser  de  outra maneira? Todos  os  tempos  são  propícios  ao  aumento  da  sabedoria  e  não  se  perde  tempo algum quando se está na espécie de companhia aqui presente. Pois  este  é  um  bom  livro  e  também um livro dos  bons,  de  palavras  saídas  de  penas poderosas,  de  pensamentos  expressos  por  cultores  do  certo  e  do  verdadeiro. É  um  texto  de todos os tempos para todos os tempos, tendo como aspiração e meta o bem da humanidade e do mundo.

Para acessar o livro completo (581 págs.) clique aqui

 

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