domingo, 27 de março de 2022

"Estou vivo e escrevo sol" - António Ramos Rosa

 





Estou vivo e escrevo sol

 



 

Eu escrevo versos ao meio-dia


e a morte ao sol é uma cabeleira


que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo


Estou vivo e escrevo sol



 

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam


no vazio fresco


é porque aboli todas as mentiras


e não sou mais que este momento puro


a coincidência perfeita


no ato de escrever e sol



 

A vertigem única da verdade em riste


a nulidade de todas as próximas paragens


navego para o cimo


tombo na claridade simples


e os objetos atiram suas faces


e na minha língua o sol trepida



 

Melhor que beber vinho é mais claro


ser no olhar o próprio olhar


a maravilha é este espaço aberto


a rua


um grito


a grande toalha do silêncio verde



 

 

António Ramos Rosa





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