sábado, 27 de novembro de 2021

"Presídio" - David Mourão-Ferreira


 


Presídio

 



 

Nem todo o corpo é carne … Não, nem todo,


Que dizer do pescoço, às vezes mármore,


às vezes linho, lago, tronco de árvore,


nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco …?



E o ventre, inconsistente como o lodo? …


E o morno gradeamento dos teus braços?


Não, meu amor … Nem todo o corpo é carne:


é também água, terra, vento, fogo …



É sobretudo sombra à despedida;


onda de pedra em cada reencontro;


no parque da memória o fugidio



vulto da Primavera em pleno Outono …


Nem só de carne é feito este presídio,


pois no teu corpo existe o mundo todo!



 

 

David Mourão-Ferreira



 

 

 

 

 

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