quinta-feira, 25 de novembro de 2021

"Delírio" - João Guimarães Rosa

 




Delírio

 



 

 

No parque morno, um perfumista oculto


ordenha heliotrópios…


Deixa aberta a janela…



Minhas mãos sabem de cor o teu corpo,


e a alcova é morna…


Apaguemos a luz…



Não sentes na tua boca


um gosto de papoulas?…



Passa o lenço de seda de tuas mãos


sobre minha fronte,


e não me digas nada:


a febre está, baixinho, ao meu ouvido,


falando de ti…



 

João Guimarães Rosa





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