sexta-feira, 26 de novembro de 2021

"De Memória" - Luís Filipe Castro Mendes

 





De Memória

 



 

 

 

Nunca te surpreendeu o sorriso estático


das imagens antigas? Alguma coisa aqui


tivemos de perder. Percorro dias e corpos na memória,


mas o que procuro mais é não te ver.




Quem ama quem? As máscaras trocaram-se


e a tua voz ressoa neste palco.


Trouxe versos e música para te dar,


mas o rosto que tivemos já partiu;


fiquei eu só, à beira da memória,


água do mar que não serve para beber.




Porque esta foi a paixão, o grande ato,


a tímida paixão de asas de chumbo.


Eu vi-te muitas vezes frente ao mar,


mas quem de nós para acender a cinza?


- ronda-nos a ave de presa despojada


sobre os malefícios. Aliás, coisas passadas.




Não te surpreendeu? O amor


surpreende - não convém, desarruma.


E nunca se ama ao certo quem se ama.


Procuramos apenas um brilho,


um brilho muito intenso no olhar,


um brilho que não vamos definir


e que algum dia iremos renegar.

 

 



Luís Filipe Castro Mendes




 

 

 

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