Diálogo com as sombras
Sobre Wiseman e como falamos do Wiseman entra em conflito com este “Un Couple”, visto como uma excepção ao seu estudado modus operandi, assim queremos acreditar. Contudo, há que ter em conta o contexto desta sua ficção, “a primeira” segundo as considerações do próprio - no entendimento e encurtar das nuances nas fronteiras entre as duas dimensões [ficção e documentário], opomos como a terceira (se contabilizarmos “Seraphita’s Diary”, 1982) - foi concebido em alturas de COVID e confinamentos, cuja sua abordagem torna-se numa resposta alternativa naquilo que Wiseman sempre se primou e que se encontrava privado, diríamos a sua sublinhada essência, as instituições enquanto ponto de partida. Para ler o texto de Hugo Gomes clique aqui
"Guerra Civil" contorna o óbvio por meio da distopia - e, às vezes, acerta
Publicado em 1899, o conto “Hearts of Darkness”, escrito pelo britânico Joseph Conrad, narra a história de um marinheiro conforme este navega em direção aos extremos mais inóspitos da África, com o objetivo de encontrar um comerciante de marfim chamado Kurtz, que teria se misturado aos nativos e cortado suas relações com seu país de origem. Em seu contexto original, a história de Conrad serviu, inclusive, como uma crítica ao processo de colonização brutal pelo qual a África passou sob a autoridade da Grã-Bretanha; muitos anos mais tarde – como os iniciados já devem saber – a mesma narrativa serviu como inspiração direta para que Francis Ford Coppola concebesse seu épico “Apocalypse Now”, de 1979, com o Willard de Martin Sheen entrando em uma missão quase suicida em busca de um coronel desertor também chamado Kurtz, vivido por Marlon Brando, nas profundezas do Camboja. Usando a Guerra do Vietnã como pano de fundo, Coppola fez de seu filme uma reflexão cada vez mais pungente sobre a bestialidade do conflito armado e da irracionalidade por trás de batalhas nas quais não há vencedores, e fica cada vez mais difícil diferenciar o certo do errado. Alex Garland, é importante mencionar, não é Francis Ford Coppola; tampouco é cabível dizer que seu “Guerra Civil” (“Civil War”, 2024) é sequer comparável ao longa de 1979. Mas, mesmo assim, aqueles mais atentos podem perceber o quão próximo, em espírito, a nova produção da A24 (tenta) chega(r). Para ler o texto de Davi Caro clique aqui
Eu Cinéfilo
Quando se tem um primeiro contato com a imagem, nunca se sabe de fato o que é real e o que não é. O ser humano nasce do escuro, do breu, e se depara com um monte de imagens repentinas, chorando assustado, com medo do desconhecido. O cinema surge do registro da realidade: uma realidade falsa que ironicamente é confundida com o real puro e palpável, causando o mesmo susto e desespero dos que chocam o olhar com ela. Pouco tempo depois, o cinema se acomoda com a ficção, essa que inicialmente, a partir de Méliès ou Griffith, tratou de trabalhar nas linhas da não realidade, mas retratadas com imagens reais. O que transforma a imagem em ficção não existe – imagem será sempre a imagem. Porém, frequentemente somos jogados como espectadores no jogo psicológico do imaginário com o realismo. Se o próprio objetivo do cinema é causar impacto a partir da imagem por si só, e sempre pensar se o que é filmado é de fato real ou não, traz uma discussão própria desnecessária, não para a curiosidade do espectador, mas para a experiência imagética com a obra em si. Para ler o tgexto de Felipe Vignoli clique aqui
0 comentários:
Postar um comentário