"O horizonte das palavras" - António Ramos Rosa
O horizonte das palavras
Sem direção, sem caminho
escrevo
esta página que não tem alma dentro.
Se
conseguir chegar à substância de um muro
acenderei
a lâmpada de pedra na montanha.
E
sem apoio penetro nos interstícios fugidios
ou
enuncio as simples reiterações da terra,
as
palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.
Tentarei
construir a consistência num adágio
de
sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.
E
na substância entra a mão, o balbucio branco
de
uma língua espessa, a madeira, as abelhas,
um
organismo verde aberto sobre o mar,
as
teclas do verão, as indústrias da água.
Eu
sou agora o que a linguagem mostra
nas
suas verdes estratégias, nas suas pontes
de
música visual: o equilíbrio preenche os buracos
com
arcos, colinas e com árvores.
Um
alvor nasceu nas palavras e nos montes.
O
impronunciável é o horizonte do que é dito.
António Ramos Rosa
0 comentários:
Postar um comentário