"Digitalizaçâo" - José Paulo Pinto Lobo
Digitalizaçâo
Neste
mundo em permanente mudança, digitalização é a palavra mágica.
Tudo
se digitaliza. Jornais, televisão, livros, dinheiro e até pessoas.
Também
as guerras. Ataques cibernéticos. Drones telecomandados.
É
prático. Actual. O presente e o futuro.
Tudo
se resume a zero um, zero um, inclusive as ideias.
Ou
são um ou são zero.
Tudo
entendido na base binária. Zero um, zero um.
Privacidade,
apenas zero.
Linguagem
máquina, algoritmos, códigos-fonte, instruções, governam nossas vidas.
Em
máquinas impensantes nos tornamos, quem sabe se dispensáveis um dia.
Cabeças
zeradas funestam o papel sob capa de defesa ambiental.
As
pobres árvores precisam de protecção. Ledo engano.
Não
são as árvores do papel mas as outras tombadas em acelerada desflorestação.
E
os recursos consumidos na produção das máquinas incensadas.
Dessincronizados
somos aqueles que gostamos de livros, físicos, palpáveis.
Antigos.
Jurássicos. Analfabetos informáticos. Velhos do Restelo.
Os
modernos não alcançam, desconseguem ouvir.
A
canção do virar das páginas, o toque amoroso da ponta dos dedos.
O
aroma voluptuoso do papel impresso.
Ah!
Pobres almas binárias.
Limitadas
aos seus ecrãs, teclados e ratos.
Em
breve de óculos garrafais e aceleradas tendinites.
Em
solitárias digitalizadas vidas.
Nem
sequer compreendem o prazer do silêncio de uma biblioteca forrada de livros.
A
beleza das paredes repletas de lombadas, comprimindo folhas prenhes de
histórias. Impedindo que esvoacem, se espalhem livres.
Livres
como o nosso espírito e encantamento, quando deleitosamente aconchegamos um
livro na mão.
José
Paulo Pinto Lobo
Cascais, 4 de Julho 2021
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