domingo, 8 de junho de 2014

200 milhões de indagações


Somos mais de 202 milhões: 51,3% mulheres, 48,7% homens; 47,7% declaram-se brancos, 43,1% pardos, 7,6% negros, 1,1% amarelos e 0,4% indígenas; 84% vivem em áreas urbanas e têm uma taxa de fecundidade de 1,8 filho, contra os 2,7 dos 16% residentes em áreas rurais; 9,6% de nós não sabem ler ou escrever e, dos que sabem, apenas 50% têm o hábito de leitura, ainda que não ultrapassem quatro livros ao ano; 65,6% são católicos, 22,2% evangélicos, 2% espíritas, 0,3% umbandistas ou candomblecistas e 8% ateus ou sem religião; 32,1 anos é nossa média de idade.
Os dados acima, do Censo 2010 e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012, ambos do IBGE; e Retratos da Leitura no Brasil, de 2012, do Instituto Pró-Livro, não mostram, porém, que também somos palmeirenses, cruzeirenses, vascaínos, colorados, juventinos, atleticanos. Somos Salgueiro, Portela, Mangueira, X-9, Gaviões, Caprichoso e Garantido. Somos noveleiros. Somos conservadores e religiosos, mas tentamos manter nossos preconceitos fora dos holofotes. Somos metropolitanos, ainda que nosso coração seja uma minúscula província. Uma vila. Ou 5.570 municípios. Somos feijão e arroz. Somos a coxinha da padaria e o brigadeiro de panela. O vento do pastel de vento. Somos jecas, jacas, araticuns e caipiras. Somos manézinhos da ilha, caiçaras, sertanejos, manos, piás e gurias. Somos quilombolas. Somos vina e salsicha, pão e cacetinho, mandioca, macaxeira e aipim. Somos uai, ochê, tchê. Somos festa junina. Somos tempestades, enchentes e deslizamentos. Somos rodovias. Somos sucuri, arara-azul, onça-pintada, tamanduá-bandeira. Somos verde, amarelo, azul e branco. Somos atlânticos na costa, e dentro, mata densa e rios imensos. Somos Guarani e Alter do Chão. Somos sertão, caatinga e pampa. Somos pantanal. Somos pinhão no inverno. Somos verão o ano todo. Somos 27 recortes no mapa. Somos América do Sul; por isso, somos um tanto Europa, outro tanto Ásia e muito, mas muito África. Somos um jeitinho, uma malandragem, uma ginga. Somos uma multidão de pobres. Somos um punhado de ricos. Somos uns tantos milionários, miseráveis. Somos um gole de cachaça. Um rebolado da mulata. Somos o gemido da cuíca e a voadora depois do baque do berimbau. Somos a viola, a rabeca e um livro pela metade. Somos um samba do Cartola, o uivo do Villa-Lobos, um verso do Drummond, as estradas de Santos, o choro do Chorinho e a guitarra do mestre Vieira. O maracatu, a tropicália e o manguebeat. Somos caipirinha e o pé de guaraná. Somos o chimarrão e a jangada. O fandango e o baião, seja de um, seja de dois ou de duzentos milhões. Somos kambô e tucupi. Somos o gol, mas antes somos o drible. Somos a multiplicação da diversidade. A esperança da miscigenação. Somos um povo que só se reconhece na diferença. Somos a diferença que nos reconhece. Somos o que somos, diferentes.Mas como chegamos a ser isso tudo? Como nos tornamos toda essa gente?

Para ler o texto completo de JR. Bellé clique aqui

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