terça-feira, 19 de março de 2024

"Palestina" - Adão Cruz

 



Palestina

 




Não há sol nos céus da Palestina


não há luz nos olhos da Palestina


roubaram o sorriso à Palestina.


São de sangue as gotas de orvalho da madrugada


e o vento só é vento quando as balas assobiam


roubaram as manhãs à Palestina.


O céu de chumbo esmaga as almas e os ossos


e é de lágrimas a chuva quando cai


não há sol nos céus da Palestina.


Do ventre da lua cheia


cheia de aço e de amargura


nasce a cada hora um menino com bombas à cintura


mataram a infância na Palestina.


Rasgam as mães os seios com arroubos de ternura


para alimentar a raiva


por cada filho que perdem outro nasce da sepultura


semearam a dor na Palestina.


Nas casas esventradas


rompem por entre as pedras leitos de sofrimento


onde à noite se acoitam os amantes


queimando a dor na paixão de um momento


fizeram em pedaços o amor na Palestina.


Cada instante é uma vida na vida da Palestina


cada momento uma taça de vingança clandestina


cada gesto um vulcão de raiva que nem a morte amansa


roubaram a paz à Palestina.


Na sombra do dia ou na calada da noite


cravam os vampiros seus dentes de ferro


no coração da Palestina


não há sangue que farte a fúria assassina


sangraram cobardemente a Palestina.


Para atirar contra os tanques uma pedra


agiganta-se o ódio a cada bater do coração


por não haver sangue de tanto sangue vertido


outra força não há para erguer a mão…


e dar à Palestina algum sentido.



 

Adão Cruz


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