"Salve Regina" - Manuel de Freitas
Salve Regina
para a Inês
“Isto já não tem melhoras” – acabou
por nos dizer Zulmira, referindo-se
à sua perna atropelada, à vida,
ao filho que há três anos lhe mataram,
embora se chamasse Epifânio.
E ficou assim, completamente sozinha,
deusa rude e resignada que veio
dos campos servir vinhos e cervejas
a uma “freguesia” que foi, em tempos,
tão imensa como é agora a sua solidão.
Uma quase mansa solidão, se virmos bem,
uma tristeza sem lágrimas, uma sabedoria
que se volta a confundir com o azul forte das paredes,
com o seu nome último e inquebrantável,
a “passar o tempo” entre os muros deste reino.
Tem agora a mesma idade que Maria,
abre só para ti uma garrafa de ginja
e assiste calmamente ao fim do mundo.
Manuel de Freitas
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