"Crime" - Luís Romano
Crime
Armazéns de gente.
Bocas cantando dramas na variedade dos casos.
Florestas de braços.
Mãos pintalgando o vácuo em ademanes.
Loucos distraindo a plateia dos cegos.
Palhaços rindo nos volteios da Fome
trazendo no íntimo o amargo dos que ficaram
os anónimos
perdidos pelas ruelas dos povoados
ou chicoteados pela mão da Assistência.
Desenhos animados.
Atenção Grande Público
Estiagem! Secas!
Gente encurralada.
Homens transformados em sombras empalhadas.
Ocasiões únicas para estudos anatómicos.
Exames de esqueleto grátis.
Aproveitar que o Circo é só de Seca em Seca.
Vejam isto
Um menino comendo excrementos de cães.
Apreciem o poder deformante da miséria.
Aqui
Uma jovem violentada por uns bagos de milho.
Olhem os loucos! Não percam o grande conjunto
desta tragédia.
Luís Romano
(Poeta cabo- verdiano)
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