"Eu percebo, claro, que não me compreendas" - Manuel de Freitas
Eu percebo, claro, que não me compreendas
Eu percebo, claro, que não me
compreendas. Há um momento em que ficamos completamente sós com os nossos
fantasmas. E não há, disso, amor algum que nos salve. Constatamos, em silêncio,
que tudo desabou.
Mas o que eu não queria, de todo, era fazer literatura desta
casa. Devo-lhe demasiadas memórias, pensei muitas vezes na sua provável ruína.
Saber que é agora «minha» representa um acréscimo de dor e de responsabilidade.
Tem-me ajudado, reconheço, trazer aqui amigos, e partilhar com
eles o impartilhável. Pois é-lhes difícil adivinhar quantas recordações estão
associadas a uma fotografia aparentemente banal, a uma jarra coberta de pó ou
ao velho gira-discos do meu pai.
Manuel de Freitas
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