quinta-feira, 2 de março de 2023

"Ciência e Poesia" - Adão Cruz

 




Ciência e Poesia

 




A Ciência diz para a Poesia


o que diz a luz para a escuridão


no ventre de um verso vivem as coisas


mas só a luz lhes abre a imensidão.


Não é o simples cantar


de frases primeiras e outras depois


que faz acordar a Poesia


mas o caminho de todos os silêncios


que levam ao reino da utopia.


Do mesmo modo que a Ciência


não é só luz nem só diferença


entre a noite e o dia


entre a verdade e a crença.


A Ciência não vive fora de si


nem a Poesia é arte virtual


tocam-se a Ciência e a Poesia


em jeito de sexo tangencial.


Se Einstein estivesse errado


certamente seria


por não ter encontrado a Poesia.


De outra forma


não seria cidadão do mundo


nem a Ciência acontecia.


Não existe apenas o que nos diz


a luz das estrelas


e o enrolar das ondas


mas também o que se sonha


na incerteza do vento


por entre os caminhos da vida


que vão dar ao sentimento.


Na tentadora renúncia


do equilíbrio de ambas


ou na aceitação fingida


da fusão do átomo e do verso


perde a vida a Poesia


ficando a Ciência sem vida.


Ao ler alternadamente


Pessoa Inédito e o Braunwald


não vemos a divergência


nem damos pela fronteira


entre Poesia e Ciência.


O mesmo prazer


o mesmo sofrer


no formular da teoria


ou no florir do poema


se entre o átomo e a palavra


soubermos vencer o dilema.


…E tudo porque a vida se aprende


entre o cair da noite e o nascer do dia


onde à luz de todas as sombras


o criador de sacrários vive a Ciência


e o profanador a Poesia.



 

 

Adão Cruz



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