"Ciência e Poesia" - Adão Cruz
Ciência e Poesia
A Ciência diz para a Poesia
o que diz a luz para a escuridão
no ventre de um verso vivem as coisas
mas só a luz lhes abre a imensidão.
Não é o simples cantar
de frases primeiras e outras depois
que faz acordar a Poesia
mas o caminho de todos os silêncios
que levam ao reino da utopia.
Do mesmo modo que a Ciência
não é só luz nem só diferença
entre a noite e o dia
entre a verdade e a crença.
A Ciência não vive fora de si
nem a Poesia é arte virtual
tocam-se a Ciência e a Poesia
em jeito de sexo tangencial.
Se Einstein estivesse errado
certamente seria
por não ter encontrado a Poesia.
De outra forma
não seria cidadão do mundo
nem a Ciência acontecia.
Não existe apenas o que nos diz
a luz das estrelas
e o enrolar das ondas
mas também o que se sonha
na incerteza do vento
por entre os caminhos da vida
que vão dar ao sentimento.
Na tentadora renúncia
do equilíbrio de ambas
ou na aceitação fingida
da fusão do átomo e do verso
perde a vida a Poesia
ficando a Ciência sem vida.
Ao ler alternadamente
Pessoa Inédito e o Braunwald
não vemos a divergência
nem damos pela fronteira
entre Poesia e Ciência.
O mesmo prazer
o mesmo sofrer
no formular da teoria
ou no florir do poema
se entre o átomo e a palavra
soubermos vencer o dilema.
…E tudo porque a vida se aprende
entre o cair da noite e o nascer do dia
onde à luz de todas as sombras
o criador de sacrários vive a Ciência
e o profanador a Poesia.
Adão Cruz
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