"Fermentação" - Domicio Proença Filho
Fermentação
a cada negro
vendido
e, Europa, França e Bahia
o tesouro
d´El Rey
ria.
Mais de 200 por cento
por peça
menos a cria
o custo saía
de graça
e o tesouro
d´El Rey
ria.
Mais da metade
da carga
das cavernas
dos tumbeiros
morria
e o tesouro
d´El Rey
ria.
Mulheres rotas e nuas
Quem por elas choraria?
fardos negros
Arrasados
no porão
quem carpiria?
E o tesouro
d´El Rey
ria.
A boca dos verdes mares
comia
corpo de velhos,
infantes
a carga se reduzia
e o tesouro
d´El Rey
ria.
Os negreiros
aportavam
no cais da velha
Bahia
bolsas de ricos senhores
abertas com galhardia
aos dentes
pernas e braços
dos negros
e suas crias
e o tesouro d´El Rey
ria.
Regada a sangue
de negro
uma pátria se paria
e os párias
morriam secos
de fome
e de covardia
e o tesouro d´El Rey
ria.
Mas uma flor bela, antiga,
brotava na selva virgem
mãos negras a recolhiam
os braços, o orgulho
o peito
e a cerviz
se erguia:
no caminho do Quilombo
o tesouro d´El Rey
morria.
Domicio
Proença Filho
Para ler o Prefácio da 2ª edição do livro “CULTURA ACÚSTICA E LETRAMENTO EM MOÇAMBIQUE: Em busca de fundamentos antropológicos para uma educação intercultural” do autor do blog clique aqui
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