terça-feira, 9 de novembro de 2021

"Janelas de Lisboa" - António Gedeão


 



Janelas de Lisboa

 

 



 

Tenho quarenta janelas


nas paredes do meu quarto.


Sem vidros nem bambinelas


posso ver através delas


o mundo em que me reparto.


Por uma entra a luz do sol,


por outra a luz do luar,


por outra a luz das estrelas,


que andam no céu a rolar.




Pela maior entra o espanto,


pele menor a certeza,


pela da frente a beleza,


que inunda de canto a canto.




Pela redonda entra o sonho,


que as vigias são redondas,


e o sonho afaga e embala


à semelhança das ondas.




Todos os risos e choros,


todas as fomes e sedes,


tudo alonga a sua sombra


nas minhas quatro paredes.




Oh janelas do meu quarto,


quem vos pudesse rasgar!




Com tanta janela aberta


falta-me a luz e o ar.



 

 

 

 

António Gedeão



 

 

 


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