Salvadores Dali e amigues: "Bella Ciao"
O grupo Salvadores Dali,
conhecido por suas releituras transgressoras, cria versão em português da
canção secular italiana “Bella
Ciao”: “darei minha vida para expulsar o ditador”. Depois
de lançar seu álbum autoral em 2019 e, em seguida, um EP com versões
transgressoras de Noel Rosa no fim de 2020, o grupo carioca Salvadores Dali
está de volta com novo trabalho: a canção italiana secular “Bella Ciao”.
Alçada ao universo pop em todo mundo nos últimos anos com o seriado
espanhol La Casa de Papel, a música ganha agora nova vestimenta
contestadora e chega também em videoclipe, disponível no canal do YouTube da
banda – lançado no último dia 7 de setembro, não por menos, uma data carregada
de muita simbologia no calendário brasileiro. De origem imprecisa – seus
primeiros registros remontam ao século XVI – a canção foi sendo modelada ao
longo dos séculos a partir de contribuições anônimas de camponeses, tendo
inicialmente como seu tema central o amor. Mas na segunda Guerra Mundial, a
canção popular tornou-se um hino antifascista para animar a resistência
italiana, os partigiani, contra Mussolini. Com essa ressignificação, acaba
se consagrando de vez na cultura popular, ganhando várias versões, tais como a
jazzística de Wood Allen, a melancólica de Tom Waits e a vibrante de Manu Chao.
Por conta do seriado espanhol, superou fronteiras inéditas, sendo cantada,
inclusive, nas varandas italianas durante a pandemia como um hino de
resistência à triste devastação do novo corona vírus na Lombardia. Respeitando
o isolamento social, os Salvadores Dali resolveram gravar a canção em português
e em sintonia com o trabalho transgressor, sua maior identidade. Com pequenos
ajustes na tradução da poesia original já consagrada, a longeva Bella
Ciao aporta no nosso Brasil atual, carregada do espírito contestador e
crítico em seus novos versos: “Suas mentiras e todo ódio/Ó bella ciao, bella ciao,
bella ciao, ciao, ciao./Custaram vidas que foram embora/Pela sandice e
desamor.” Assim a luta contra o fascismo, ou neofascismo, se une à indignação
com relação aos números da covid-19 no país. Nessa (sub)versão – conceito
que os Salvadores criaram para definir sua estética musical – o aspecto rítmico
não ficou de fora. Similar às canções populares na Europa do século XIX, a
música se inicia de forma melancólica, introduzida apenas pelo piano e baixo
acústico. Segundo o baixista Jorge Moraes “a ideia é expressar de fato a
angústia que todos sentimos em relação ao momento presente, mas sem também
ficarmos presos, todavia, a esse luto musical”. Não por menos, a segunda parte
da canção mergulha profundamente no estilo punk dos anos 70. O videoclipe contou
com a participação de vários amigos dos integrantes, como a mezzo-soprano
Vivian Fróes, que também é militante de direitos humanos e da causa das pessoas
transgêneras; a cantora de brazilian jazz e samba Flávia Enne; o
sociólogo Nelson Ricardo (também compositor do grupo carioca); o cantor e poeta
Zuza Zapata; a cantora de Jazz e MPB Manni Moritz; o vocalista Xandão, da banda
de rock CaverJets e a participação especial de Marianna Leporace. “A canção foi
produzida coletivamente, ao longo de todos esses séculos. Por isso, não faria
sentido algum apresentá-la ao público sem a participação de nossos amigos”,
afirma o guitarrista Marcio Meirelles. Os integrantes do grupo Salvadores Dali
que participaram desse projeto são Jorge Moraes (baixo), Marcio Meirelles (Guitarrista
e pianista), Robson Batista (saxofonista) e Jorge Casagrande (bateria).
Para assistir à interpretação
de “Bella Ciao” pelo grupo Salvadores Dali clique no vídeo aqui
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